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quinta-feira, agosto 21, 2014

ESTAÇÕES PORTUGUESAS DE TELEVISÃO C-LIXO

PÚBLICAS BANALIDADES E HORAS DE LIXO PUBLICITÁRIO



Coloquei-me em frente do televisor, onde tantas horas já perdi de tédio e revolta, liguei a máquina de fotografar. Depois de uma fita de registos, apontei a objectiva ao ecrã e decidi esperar o tempo que fosse preciso. Num programa de balelas pela tarde fora, por esse país longe e deprimido, a televisão em directo, com apresentadoras, garotas fingindo que dançam e cantores de grau C, dizem a Portugal o que é Portugal -- e muita gente  das redondezas ali fica ao sol, de pé, embasbacada e capaz de sorrir, ou rir, ou gritar, ou concorrer a um prémio de mil euros. Aqui vem uma senhora com o menino (de pequenino é que se torce o pepino,  não é, ó Goucha?), toda contente, enquanto os frames seguintes,  pirosos até  mais, feitos à mão (popularmente) anunciam outra rodada e onde e a que horas.


senhora da CASA SUJA

Fui fotografando o que me agitava desde logo a alma: podem reparar no bom gosto desta composição anunciando o elenco dos artistas e dos técnicos. Claro que muita gente acha isto piroso, mas que raio, as coisas são como são: não há ali muita gente que cola assim as fotografias nos álbuns de família, embora se limitem a apontar, numa escrita manual, os nomes dos elementos da Casa, o Joaquim corta e cola, a Maria acha mal porque a senhora professora de Educação Visual indicou maneiras mais giras e sérias de conferir equlíbrio à composição das imagens e dos textos numa folha A4. Coitada da miúda, então não queriam ver que ela se achava mais apta do que os senhores da televisão?



as séries de nível C-lixo

As novas teconologias já nos metem nas mãos ecrãs pequenos, A4 (porque não), com tudo lá dentro: a publicidade antes do mais, as séries de acção (ali está o rapaz tocado por Deus para não disparar a pistola), coisas assim SYFY, MGM, internet, mensagens a cada minuto, entre o Terreiro do Paço já cosmopolita e um lugarejo da Ucrânia, massacrada pelos russos e ajudada diplomaticamente pela sonsa Europa e os caças americanos. Mas não julguem que a televisão assombra as pessoas com coisas dessas. As piores guerras são nos canais de notícias, horas seguidas, com uns marretas a falar de futebol, sempre de cátedra, com médicos e tudo, homens que medem o tempo, economicistas, políticos. Tudo pára, até as eleições, porque começou o Chelsea com o Benfica e em Espanha o Ronaldo fez um golo, que é preciso repetir três vezes e em ângulos diferentes. Esta mobilidade visual já foi estudada na Universidade, em teses de doutoramento. O futebol é uma das religiões mundo. A virilidade dá para enormes cenas de pancadaria cínica, no corpo a corpo, coisa que nunca se vê em coisas como Jardins Proibidos, novela que vem somar-se a mais cinco e repetições que os canais passam à noite, de manhã e de tarde, claramente acima das nossas possibilidades de percepção, sobretudo depois do debate político de ontem: já apareceram ténues sinais de desenvolvimento e o BES vai ser lavado da hemorragia que teve na sua própria sede. O INEM chegou outra vez tarde. Portugal não sabe onde estão os verdadeiros torcionários e já nem pode garantir a quem o BESI (Angola) emprestou cinco ou seis milhões de euros. Uns quanzas é que deviam calhar. Mudem de canal, mudem depressa, vai falar o professor Marcelo Rebelo de Sousa. Gravem, amanhã decifra-se a embrulhada.

como livrar as universidades do C-lixo

É preciso abreviar isto porque os minutos, na televisão portuguesa, são contados aos minutos, excepto quando se trata do futebol: dois canais, cinquenta minutos cada, com prolongamento, e jogos eternos, a oitenta milhões por contrato de jogador, o que não os impede de puxarem pelas camisolas, rasteirarem o parceiro, partirem maléolos e coisas assim. As fases em câmara lenta, repetidas com o seu ênfase próprio, mostram algo de semelhante a uma carnificina a cores -- e que nos lembra os escassos minutos das guerras em curso no Médio Oriente.
Este plano tratava, sucintamente dos cortes nos orçamentos de ESTADO para as Universidades. É claro que o Estado aforra muitos milhões populares com concursos como o euro-milhões certas taxas que mal se notam, das quais surgem poupanças que davam para o nosso primeiro-ministro não dizer aquelas coisas por causa do Tribunal Constitucional: então agora fez birra no discurso do Pontal e, porque lhe cortaram a CES, subiu a voz, garantindo que, se era assim, então não proporia mais reformas para a Segurança Social. É que ele pensa que a tal taxa era uma Reforma. Cortar nos salários é reconfigurar tudo, funções, projectos, interacção entre serviços, campos financeiros, económicos, justicialistas e de balanço.
Voltando aos reitores. Os homens têm razão: então o governo adianta 60 milhões de subsídio aos colégios privados e, este ano, ao Ensino Superior carregou com mais 14 milhões? Eu duvido destes números que li num jornal controlado por dinheiros de África. Mas é certo que aumentou, isso sei, e sei também que devia parar ou descer.

o «belo gosto» dos gráficos

Aqui têm uma grelha sobre desporto que prima pelo contraste e elegância das manchas gráficas. Isto é o pão nosso de cada dia: insersores de caracteres que se imobilizam no tema e não repetem o nome do convidado, letras de macarrão, simbolos desalinhados, rótulos  entre maneirismos de canal e de tema, por vezes a bonecama invadindo cenas inteiras, para que ninguém se esqueça que está vendo AMOR e VENTO (em cima, à direita do ecrã) e que está sintonizando o canal TUF1, e em breve terá acesso aos bonecos que invadiram por momentos o campo, com momices e dejectos, além do nome Rei Pirata. Isto é tudo ilegal, contra os direitos do espectador e os direitos dos autores, já pensaram. Aproveitam para olhar para baixo: é mais um troféu que tem esta cara e esta expressão, aspectos grotescos em nada ligados ao humor, nem à comédia, nem ao circo, nem à  revista à portuguesa, mesmo aquela que conquistou Lisboa, pelo génio de La Féria, no Politeama.


O cinema é coisa me!!!!!!nor: vamos às novelas


actores bons* argumentos rotineiros e de pacote

Tenho o maior respeito pelos nossos actores e acho que, se houvesse gente capaz do lado conceptual, argumento, inovação expressiva, fuga às convenções cariocas, poderíamos chegar a um ponto superior da arte de criar em televisão; no caso de configurações derivadas do cinema e mesmo do experimentalismo arrancado da era do vídeo.
É talvez altura para, lembrando a desmontagem crítica do saudoso Mário Castrim, apontar algumas coisas sobre as telenovelas. É verdade que os actores evoluiram de forma notável e chega a haver mesmo sequências com cenas muito bem pensadas, contextos cénicos bem favoráveis à relação das cenas e dos tempos, num grau de verosimilhança decisivo. Mas, curiosamente, um dos principais problemas começa nas angulares e na permanência irreal do estereótipo de cada lugar, do próprio guarda-roupa, de certas marcas psicológicas a que o «boneco» é forçado, em nome, porventura do reconhecimento existencial.
No caso da novela que está a terminar («Belmonte»), aliás mais ou menos bem urdida e com momentos apreciáveis de escrita (palavras e qualidade dos planos), há, como em todas, uma absurda geografia quanto a lugares e aspectos gerais, sobretudo os aéreos.
As instalações do grupo Belmonte são muito bem achadas e os interiores cénicos, em racord com o clima da Quinta, funcionam com muito interesse. O espaço sala do casarão Belmonte, onde a família comcentra refeições, troca de palavras e mesmo cenas de desconfiança de bom recorte, tem uma escala que permitiria encenações mais ricas e intencionais, quer ao nível do movimento dos actores quer do lado da câmara, circulando, subindo e descendo, por exemplo, na medida em que esse investimento no cenário implicaria a emergência das diferenças e das sombras.
Depois pensamos assim: só à o café da Beatriz em Estremoz, assaz munida de uma estalagem
que só perda por saídas e entradas parecerem demasiado teatro. É preciso que o espectador aprenda, mas isso não deixa de acontecer com recursos diferentes à tomada de vistas. Quase sempre, tudo está tão previamente fixado, que levanta a ideia das câmaras estarem coladas ao chão, desde o início e nos mesmos pontos. Tudo, aliás, acontece assim: a distância a que se entra no sala dos Belmonte, a falta de uma parede no café da Beatriz , a fixidez da sala dos Milheiros. E assim por diante, em todo o lado. Não me parece nada descabido combinar com certas lojas e cafés a captação de cenas curtas, uma compra, uma conversa com alguém dali. Os habitantes não podem ser só meia dúzia de figurantes. E a luz que se aplica aos cenários, se é de dia, tem de o parecer (neste tipo de registo), tal como à noite. Os espectadores seguem um fio em cortes da meada e não sabem a quantas horas. E não se fale nos calções e minisaias de todas as miúdas e raparigas. É bonito, dizia-me um velho, ver as pernas. Pois sim. Talvez seja por isso que está sempre sol, há sempre praia (nas novelas em geral) e ainda não aprenderam a iniciar uma relação amorosa despindo-se primeiro por baixo e só depois, ou entretanto, a roupa de cima. Os esterótipos das cenas de cama são risíveis: não é nada difícil melhorar essas encenações, marcando-as pelo que sucede psicologicamente com as personagens. Toda a gente salta sobre uma secretária, raramente sobre uma cama e desatam a despir-se um ao outro SEMPRE DA MESMA MANEIRA. E não estou a referir os actos de encosto à parede: o que se podia dizer a esse respeito (e à chuva, rara) poderia dar uma sequência jocosa.
Os fazedores de telenovelas (diz-se que por causa do turismo) aprenderam a filmar paisagens cidades ou aldeias através de vista aérea. Muito bem Dá jeito e, em muitos casos, dá a ver o outro lado da beleza. Mas isso não tem que ser feito sempre da mesma maneira, com o mesmo movimento de aproximação, os mesmos cavalos correndo, os mesmos toiros na margem. Pode haver uma questão económica. Há um parágrafo, sai plano aéreo inserido e a musiquinha assaz demasiado alta e quase sempre desapropriada do lima geral do enredo. Este recurso, ensopadamente repetitivo não tem sentido. Como aquela de os personagens, após uma troca rude de palavras, apanharem com um que resolve sair: vão quase sempre a quase correr. Será expressão? Sempre?
Um dos horrores de quem vê novelas é ter que chupar, por todo o lado e em todas as cenas, a música por vezes espantando os diálogos ou, na mesma altura, perante uma cena dramática, de murmúrios, entre um qualquer casal solitário, porventura ao fim do dia. Tudo o que se aponta aqui deveria ser revista, sem ceder a brasileiros e a batidas de cão. E também «proibir» os inserts com planos da rua em que o trânsito e as pessoas se deslocam à velocidade da luz. É aberrante e não acrescentam retira nada a nada. É apenas um erro grosseiro.
Era urgente escrever um livro sobre estas coisas. 
Mas termino. E termino dizendo que as novelas não precisam de rótulos aos cantos e de interupções para publicidade de outras e de produtos, com uma marca decrescente dos segundos que vão permitir retomar a acção. Uma cena é interrompida: vê-se no ecrã 30 s, e começa o relógio a  andar para trás. Isto várias vezes e com tempos diferentes. Para não falar nos intervalos onde já cheguei a contar 28 minutos de salada de anúncios. Depois é entre programas. E sempre assim. Se não há, falta legislação sobre isto: há países que regulam tudo e não permitem interromper um filme (já falo nos de qualidade) para passar durante 40s uma pasta dentífrica. Um amigo meu, disse-me: não ligam aos direitos, especiais e gerais, querem o dinheiro e usam 24 horas de televisão para, durante o dia, a impressão de que vimos mais publicidade do que formas de outra cultura,,cinema, teatro, novela, debates, palestras ilustradas, desporto com conta peso e medida, música séria, etc.
Ajuda aí na parte política, amigo Castrim.
Do Além ouve-se: eles mataram um dos maiores engenhos do século XX. E até o cinema, com os monstros do imaginário americano vão tragar a terra. Volta ao Kazan e ao Tarkovsky, entre outros. Em suma, escolhe.




                 intervalos e cortes de publicidade proibitivos     


Mário Soares, Presidente da República no início do processo de Abril  74, irrita-se com  as coisas de agora e diz o que lhe apetece. Está velho mas intervém. O seu mal não é a televisão, mas ainda sabe quem dorme por cima da sua cabeça: pode ser um sono  de amor ou um vulgar  simples  reclame  ao   perfume  da  agenda. Depois  tudo  corre  na  mesma:  o  ecrã mostra  a uma  hora,  sinal  de  que  vai  acontecer  um  programa:  mas  claro   que  uns  segundozinhos vêm mesmo a calhar  para  a  publicidade  ao  carrinho. Sempre. A  toda a  hora.  As  estações cartelizam  a  publicidade.  Quando  um   programa  mal  acaba,  antes  do  seguinte  lá vem  a cascata   da publicidade.  E  o  espectador  sem  licenciatura  de  chantageado  por  outro: está a dar publicidade. Só quando um termina, terminam todos.
Que bela liberdade de comunicar, que bela ética: todos escondem todos.

Olhem para cima, mais publicidade, mais sport, e ali não dizem que, na televisão portuguesa, desporto coorresponde a futebol. Uma das maiores invenções da moderna tecnologia é hoje prisioneira da forma como se transmite e se paga a si mesma: quase não serve para nada, prende os velhos às cadeiras, trabalha absurdamente 24 horas sobre 24 horas, esmaga o mundo sob o seu peso, esquemas de contrato, concorrências que implicam horrores de mau gosto e massificações em pós modernismo do humor, reles, reles até se morrer em solidão diante do «vidro» à cores e muito barulho. Os mais crentes no Além já se convenceram que preferem ouvir música celestial do que ter televisão com mil canais no quartinho de nuvens.

CONTINUAREMOS: SOBRETUDO DEPOIS DAS PRÓXIMAS GREVES DO PÚBLICO À TELEVISÃO PORTUGUESA, BEM COMO A GREVE DE ANUNCIANTES 

segunda-feira, agosto 18, 2014

HAMAS*GAZA*ISRAEL*LÍBIA*SÍRIA*UCRÂNIA* E A PESTE


                                 
Talvez não haja título nem para as «ilustrações» nem para os indícios da sua turbulência, a fragmentação dos edifícios, os seres cortados ou desfeitos em  imagens de  espelho ao  correr do olhar. São as guerras que merecemos ou o resultado de civilizações que erraram os planos da sua história, entre os medos, os mitos e os deuses a fazer de pais omnipotentes, a exigir mortandades para serviço da sua discisplina e ordem e ocultos desejos de grandeza. Veio tudo a acantonar-se num só Deus com vários nomes. Alá está hoje zangado e o livro que o serve é decorado pelas meninas que os talibã sequestram em estranhas escolas. Deus, dos cristãos, já aparecera no livro Sagrado dividido em vários ou num disfarce de cólera única para reger um mundo convulsivo, apesar dos anteriores,  Buda, o  senhor  oferecido ao Todo ou ao Nirvana, para onde convergem os mortos vazios do que foram em vida. Agora as religiões repetem os horrores milenares e despedaçam as nações: outrora as Cruzadas, entretanto as guerras santas, sob o mesmo Alá, numa pavorosa explosão de grupos, seitas, sacerdotes feitos generais, presidentes gritando para as tempestades como os Papas medievais sussurravam a usura e os equívocos entre mortos e vivos, casando e descasando, até à luz daquele Lutero que ainda nos ilumina apesar das suaves iluminações de Francisco, arranchado perto do Vaticano e pronto a dizer as prontas palavras até há pouco ocultas nas catequeses.
Estas palavras, descosidamente, procuram chamar a atenção para as crises sistémicas actuais e para os fenómenos de desmembramento das culturas em nome das novas Cruzadas de todos contra todos, povos, etnias, seitas, religiões, grupos económicos e políticos, em perda como a ONU, a UE, a própria UNESCO, sem falar nos federações e outros regimentos de interesses e de memória colonial.

Assim, aqui ficam, para memória futura, duas imagens riscadas, a morte de alguém, as cidades devastadas, em ruínas.