A imagem aqui publicada foi recortada de um contexto urbano, Nápoles, onde vários problemas de ordem política e social criaram uma situação aterradora: o enchimento de grandes áreas da cidade com verdadeiras montanhas de lixo. O enquadramento abstractiza a realidade visual e chega a produzir um efeito muito próximo daquele que experimentamos perante documentos de mortandades derivadas de conflitos humanos, genocídios, remoção de violentas catástrofes. Curiosamente (e assim se apura a sensibilidade criadora) a imagem seguinte encontra-se, por algumas analogias, com o sentido geral da primeira. Em ambos os casos há uma acumulação de matérias, de corpos semelhantes e simdaultaneamente diferentes. Na segunda imagem acontece o registo de uma obra de arte ligada à tendência pop, à arte urbana, ao expressionismo. Grandes quantidades de embalagens perdidas, de latas que foram amolgadas e comprimidas lado a lado, por camadas, podem favorecer o aparecimento de mensagens polissémicas, todas envolvendo a ideia de sociedade consumista, avassaladora, de perdas e excessos, de falta de organização plural do nosso comportamento, sua funcionalidade equilibrada, manejo e destruição produtiva em ordem ao equilíbrio sistémico dos modos de vida e da sua qualidade.
Este é um ponto de viragem, transformação do lixo comprimido e feito objecto de arte. As latas coloridas e apertadas em camadas, geram um espectáculo matérico, emergência artística, a vibração poética que evoca a própria civilização tecnológica e lhe extrai um valor expressionista pela dramaticidade caótica vinda do tratamento digital a vários níveis (cor, forma, textura aparente) em termos de descaracterização abstractizante do referente.
Um comentário:
E se começassemos a construir edificios, casas, monumentos e tudo mais alguma coisa com o nosso próprio lixo?
Não seria uma excelente ideia para ajudar a aliviar o planeta...? Não me parece que seja suficiente a reciclagem que se faz no nosso dia a dia.
Um boa semana tiomeu
Daniela
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