Páginas

terça-feira, maio 22, 2007

OS MENINOS DESAPARECIDOS OU RAPTADOS

Esta menina, de quatro anos e origem inglesa, encontra-se desaparecida há cerca de um mês e o seu caso ainda não foi resolvido, como infelizmente acontece todos os dias com milhares de outras crianças em todo o mundo

ENTRE MARGENS, MEMÓRIA DA REVOLUÃO

fotos de rocha e sousa

era pequena mas havia quem atravessasse
o Tejo até à praia da tasca do mestre joaquim

logo pelas 9 horas, quando tudo ainda
parece cinzento, já ele lá estava para
o mata bicho
os campos, para lá das dunas,
estavam bem salpicados de luz,
passava um ano, ano e meio daquele
1º de Maio em que fomos todos camaradas

pela estrada, as barracas dos pescadores ao fundo, a mensagem seguia o seu caminho

a tasca do mestre joaquim estava toda cacagada, mais parecia um cartaz do partido comunista e dos brasas

Eram horas do cafezinho

ala que se faz tarde.

ala que se faz tarde. Vamos para o cais apanhar o cacilheiro

sábado, maio 12, 2007

O RUMOR SURDO DAS PEDRAS

O ruído das máquinas faz-se ouvir, até ao sono, ou até ao desespero, na aldeia mais próxima, explosões e máquinas fracturantes do cerro, arrastando os seus efeitos pelo resto do vale, entre sombras. Havia quase sempre, outrora, na tépida temperatura da tarde, vozes soltas de quem espera o jantar aquecido na berma da estrada, em volta uma casa a céu aberto, com paredes de eucaliptos. E, além das vozes, antes ou depois dos rebentamentos da pedreira, o ar era atravessado de súbito por gritos de faca, cortantes, um aviso para que todos corressem até à reserva de segurança constituída pelos blocos facetados. Estremecia tudo, a pedra era arrancada do corpo da terra em pedaços de carne, coisas informes que tombavam na rampa da pedreira. Rebelde, antropofágico, sem passado nem futuro, o homem é ainda, a par a sua tecnologia cada vez mais avançada, o batedor das terras convulsas, coup de point ao alto, pronto a rachar as madeiras para fazer o fogo ou para abrir a larga testa de uma espécie de búfalo depois da cópula, justiçado e justiceiro, num desvario próprio de uma nova vontade de saciar enfim o resto agreste do cio.












fotos de rocha de sousa

quarta-feira, maio 09, 2007

A GALÁXIA NO LIMITE DA INCANDESCÊNCIA

pictograma de Rocha de Sousa

METAMORFOSES DA IMAGEM


A fotografia que podemos ver por baixo deste texto foi conseguida de um trabalho de genimação de registos publicado num jornal diário português. Trata-se de uma «legenda pictográfica» sobre a realidade em convulsão, onde a própria publicidade se amarrota de mistura com o lixo urbano. Ao trabalharmos nós mesmos esse resultado, solarizando primeiro o conteúdo geral e contaminando os fundos com cinzento e amarelo, além de acrescentarmos alguma forma ao segundo conteúdo, por meios digitais, obtivemos um resultado de cariz plástico inteiramente viável e conexo com outras experiência de tal domínio.

CAMINHOS PELO PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO


fotos de rocha de sousa
Ao descermos a rua da Sé, em Silves, deparamo-nos com o grande torreão que articulava dois panos da terceira muralha da cidade e se reforçava por duas portas: a que vemos nesta direcção e outra à direita (não visível deste ângulo). A cidade era contornada por várias ordens de muralhas, com a almedina (castelo) no alto, e diversos equipamentos de engenharia para guardar mantimentos e aceder por poços à água do rio. Na conquista de Silves por D. Sancho I, em conjugação com uma armada de Cruzados que vinham do norte, o rei conseguiu alargar o território até ao mar, a sul, dando o saque das povoações aos guerreiros estrangeiros. Foi um tempo difícil, pois as cidades ficavam meio destruídas e a sua guarnição era, na míngua de pessoal, constituída por meliantes e ladroagem arrancada às cadeias. Depois de dobramos esta assagem, entrams num largo, hoje composto de formma híbrida, mas no qual foi há anos colocado um pelorinho da cidade, visível de muitos pontos e quase sempre tendo por fundo, em grés, pedra da região aplicada às fortificações, a alta arede da alta torre que ali se agiganta, depois de muitos usos, e cuja postura estratégica era, como dissemos muito importante para a defesa dos patamares ulterores do burgo. Assim se foi cumprindo o objectivo de alargar o reino, estabailizando-o, e empurrando para fora dele os mouros (ditos então infiéis) e cuja civilização na Península Ibérica atingiu níveis importantes técnica e culturalmente. Famílias de mouros consegira processos de integração, sobretudo no Alentejo, de que Arraiolos é um exemplo fundamental.

quarta-feira, maio 02, 2007

NOJO AOS VELHOS

foto de Rocha de Sousa
texto: excerto do romance Nojo aos Velhos, do mesmo autor
Ninguém interrompeu o discurso de Orlando. Feliciana tinha os olhos abertos de sabedoria.
«Eu pensei que não gostava da senhora e hoje não tenho razões para começar tudo desde o princípio. Aliás, se tivesse conhecido o Duque em pé de igualdade, estaria longe de olhar sequer para ele no fervor de uma época de republicanos. Com certeza. Se calhar não gostava da senhora por ter sido esposa de um resto encarquilhado da monarquia, ou do espírito monárquico, os fatos, os velhos cavalos, a renda de pedra para fingir pináculos de grandeza. Era tudo ideia dele, certamente. Agora, se a vejo de soslaio, por aqui, neste não dizer nada, tenho outras razões para a raiva de cada dia, sempre ponderáveis, contra essa lenga-lenga dos bons sentimentos. Deve ter sido graciosa em nova, reconheço. Contudo, eventualmente, sobrevive entretanto com muita pintura e cabelos apertados. Isso vem de longe, porventura. Mas não é orgânico, não pertence à verdade, claro que sim, os vidros além. Eu sei que desliza pelos corredores e salas e saletas, eventualmente, um pouco tonta por vezes, de uma utilidade inútil. Em todo o caso, se a fotografarmos da cintura para cima (devagar, em contra-picado) talvez se possa dizer que está de pé, assumindo a herdada ruina da autoridade. Sim, tam razão: é patético não me lembrar do seu nome, penso devagar e nada, depois sinto a orla de uma lembrança, alguém que se chamava Mariana; e deixo-me vencer pela confusão.Ah, já sei, Feliciana. Agora que o seu perfil se tornou claro em contra-luz, vejo-a discutindo o destino do mundo, saltando por cima da morte e da solidariedade social. Era atrevida, a Dona Feliciana, e agora está aqui, na Casa, ainda em vida, para cumprir uma pena dolorosa. A sua cadeira dourada, pois claro, contudo. Deveras que penso mais em artilharia do que em cavalaria. Ele era pequeno, de pera, bebendo o seu cognac, e acabou fotogrado nos jornais, após a nossa libertação, por causa de mulheres e fraudes financeiras, um escândalo nacionalista. Certamente. Vezes sem conta. A senhora resistia, da varanda do seu palacete, cópia eventual de outras mulheres, a seiva a perder-se. Não, de facto não tinha simpatia por si, nem pelo Arquiduque, e o facto de nos encontarmos nesta promiscuidade, eu modesto engenheiro imobilizado, a senhora apodrecendo colorida, prova a insanidade da Natureza. Porventura. De erros vários, contudo. Dizem que há um Deus cego, eventualmente atordoado com a nossa aventura, a incandescência em volta, os sonhos escurecendo no entardecer.