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terça-feira, maio 03, 2016

MORREU QUERUBIM LAPA, GRANDE CERAMISTA



Querubim Lapa, grande artista da cerâmica e da pintura, faleceu agora, aos 90 anos, tendo beneficiado de uma vida criativa, esplendorosa nas criações em cerâmica, no exterior e no interior de edifícios públicos ou privados. Nasceu em Portimão, 1925, tendo falecido no dia 2 de Maio de 2016. A sua versatilidade enquanto artista plástico (pintor, desenhador, gravador e ceramista) abriu-lhe diversos espaços no país e no estrangeiro para criações emblemáticas, sobretudo em cerâmica. É curioso o seu percurso de formação, estudos  que acabaram mais longe no tempo do que seria de esperar, porque a aprendizagem anterior e o grande êxito profissional o ocuparam profundamente: numa já distante data quando era figura principal, frequentou, com a humildade dos grandes espíritos, a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, Curso Especial de Escultura (terminando em 1978 o Curso de Pintura).
Conhecido, na altura, como importante representante da cerâmica artística portuguesa, Querubim desenvolveu excelentes séries de pintura, em parte expressionistas, em torno de temáticas dos conflitos então em expansão no Médio Oriente. Foram «reportagens» na hora, tempo de Arafat, de atentados, de entrevistas de grupos terroristas: têm, neste tempo igualmente conturbado, um notável efeito histórico e memorialista.
Nos últimos tempos, Querubim comprara uma casa em Silves, nossa cidade de grande recorte histórico: para ali se dirigia o artista no tempo quente, e nós mesmos ali o encontrámos, sempre votando novas pausas e mais conversas. Acabou ontem, o amigo de sempre, que tive a oportunidade de filmar, através da obra, para a RTP, um interessante documentário que foi apresentado em Itália.

MEXICANA - Praça de Londres, Lisboa

                                        CASA DA SORTE, Lisboa

                                     Pintura AS COSTUREIRAS

sábado, março 19, 2016

PENSANDO OS DESASTRES PRINCIPAIS


O mundo que nos cerca cada vez mais, por absurdo que pareça dada a esfericidade do planeta, é feito por si, do nada e do longe, e nele brotou uma gente que se espalhou por toda a parte e vive hoje um estertor tóxico e preso à miséria e à finança.
Neste texto escrevi 10.000 caracteres e o computador, por corte da internet que pago a peso de ouro, desligou (no ar...) e cortou o momento em que dava forma pública e publicada às tais dez mil letrinhas.
Depois da história do Homem e da Arte, do realismo e da "soma das destruições", havia escrito algo sobre estes quadros expostos na galeria São Mamede e que se intitulam, na generalidade, "Desastres Principais". Não sendo um ligamento ao minimalismo e à conceptualidade, este testemunho procura falar da actual condição humana, dos destroços que nos envolvem, dos aterradores sinais dos tempos, sob atmosferas que a Humanidade poluiu e as fendas que mostram corpos chacinados ou lixos incontáveis. Alguns títulos podem abrir espaços de leitura e a reinvenção do medo e da espera. A vida só tem sentido através da morte, mas a morte apaga num décimo de segundo 10.000 anos de risos e palavras, gritos ou ruídos absurdos.
Não é fácil perceber a vida e a sua estranheza singularmente através do olhar. O olho recolhe sensações, conta estímulos, move-se pelas incessantes armadilhas do visível. Partimos aqui do princípio que certas aprendizagens já se ligaram aceitavelmente no espaço relacionado da razão e da consciência. Então os encontros e misturas de sequências diante de nós podem ser atadas a padrões e nomeadas e reconhecidas em mobilidade ou paradas. Com meios tradicionais ou recentes, a nossa gestualidade interior, aliás ajudada pelo imaginário, procura apropriar-se de certas aparências, coisas, paisagens, rostos. Copiar rostos é impossível mas a nossa persistência é enorme. E assim se fez história com desenhos e pinturas através dos tempos. A Civilização cresceu, refiro-me à actual e que se encontra no ponto máximo do excesso, da conflitualidade e do desmoronamento. A percepção já nos avisou dos desastres principais, como aconteceu no fim da segunda guerra mundial e como se vê, entretanto, entre apoplexias do ódio e das degolações.
Nesta exposição não se copia nada: anota-se a morte dos lixos e os montes de destroços ou de restos de uma tecnologia veloz mas desinteressada da alma. Há restos de sentimentos por toda a parte, sinais ou marcas em bocados de membros, ou nada disso e antes certas alucinações que nos acometem depois do medo ou de uma amputação. Isso também se acolhe à beleza e é por isso que os artistas hoje podem misturar noivos antecipadamente mortos e noivas que nunca os viram. Ou cintilações do quotidiano, objectos abstractos de uma ida à praia, picos à superfície dos oceanos anunciando naufrágios, escritas de acaso, perdas sem nome. Em vez dos minimalismos e conceptualidades, esta linguagem retoma a vida entre a morte e os destroços. Entre a espera e os fumos que se concentram para matar todas as espécies de vida, o próprio planeta, deixando que uma pétala de esperança apareça em Andrómeda. Essa sim, é a verdadeira Ressurreição, embora Edmund Cooper a tenha renegado, fechando sempre o círculo da grande viagem sobre si mesmo, perante os mesmos desastres.

                                                                   
                           
              DESASTRES PRINCIPAIS OU RESTOS DE PALAVRAS




A MORTE DO NOIVO E O PROTOPLASMA DA NOIVA


       MUTILAÇÕES CIVILIZACIONAIS