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sábado, abril 25, 2009

25 DE ABRIL OU A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS


Acordei ao som da rádio, naquele dia de Abril de 1974. Havia portas a bater, carros assustando as ruas, carros apitando sem parar, como acontece frequentemente nos casamentos. Um amigo telefona-me e dá-me a notícia: o tal movimento dos capitães está na rua. O governo vai cair. Ainda lhe pergunto, sobreposto ao entusiasmo das vozes do outro lado da linha: e basta que esse movimento esteja na rua? Você tem assim tão grande fé? E ele, em perfeita bonomia: não é de fé que se trata, é de esperança. Eu, ainda ensonado: ainda bem para todos. E a rua, como está a rua? O meu amigo, impaciente, a rasgar a voz: a rua desobedece, obviamente, às ordens em nome da segurança individual, é gente e gente, muita gente, talvez gente que não tem fé nem esperança, tem, isso sim, a certeza.
E então, ao abrir o rádio, uma voz convicta dizia: aqui, Movimento das Forças Armadas.
Não foi preciso esperar muito tempo, horas ou dias, para que a certeza popular acompanhasse a forte convicção das forças que haviam, enfim, tomado os pontos cuciais de Lisboa, a par de outros semelhantes acontecendo um pouco por todo o país, numa linha principal e bem estruturada. Floresciam já, assim mesmo, os cravos vermelhos, símbolo indelével do golpe militar que permitiu, à noite, na televisão, declarações lapidares dos factos e sobretudo a leitura de um programa sintético a explicar os pontos essenciais desta viragem no regime: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização. Já nem posso garantir que estou a escrever certo. O amigo que me telefonou no próprio dia 25 de Abril, anda desolado com a marcha da História. Flores emblemáticas sempre recuperadas ao longo dos anos, eram os cravos que as crianças, alegres com o lado bizarro do seu acto, metiam no cano das espingardas em repouso mas em alerta sereno, aparentemente cuidando do futuro.

Um comentário:

jawaa disse...

Democracia, Desemvolvimento, Descolonização, escreveu o que se cumpriu nem sempre da melhor maneira, mas as revoluções são assim mesmo.
A descolonização fez-se, o desenvolvimento aconteceu e a democracia está.
Falta aperfeiçoar tudo.