Nunca somos quem julgamos ser,
olhar brevíssimo ao espelho.
Nunca sabemos quem procuramos
na falência dos dias
e no descuido de várias impaciências,
cedo ou tarde quando amanhace.
Na montra apertada do mundo
as horas não marcam o tempo
e tudo o que depressa arrefece
depressa o sol aquece.
Assim, na ilusão do espelho,
cada procura ansiosa do ver
se desfoca em suor e nos mente.
É gume ou faca.
Alguém grita sem língua nem boca,
de repente.
Olho suspenso,
agonia dele ao aviso aparente da lâmina,
estridência dos reflexos e do sangue,
tudo se exalta e tudo se recria,
inevitável,
responsavelmente,
Meursault respirando azul
ou um rosto que desconhecemos, baço,
e a cadência dos passos lassos,
surdos e quentes
e um brilho súbito
contra a paisagem
ou a areia incandescente
reflectida no olho suspenso.
O sol na lâmina, insuportável,
a faca faísca branca, o sol a pique,
e um tiro maquinal,
breve, seco,
sem alma nem razão,
tão absurdo como a realidade em volta.
Um vulto branco, tombado, talvez alguém.
Espuma dos dias, o mar de Maria.
Um ruído doce de águas, além,
e a espera, a natureza sem nome,
coisas, apenas coisas em volta,
talvez estilhaços do espelho
que nunca reflectiu nada
nem ninguém,
gaivotas voando em volta.
Um vulto tombado.
Um céu azul.
Areia clara.
A espuma do mar.
Quase nada.
Quase tudo.
olhar brevíssimo ao espelho.
Nunca sabemos quem procuramos
na falência dos dias
e no descuido de várias impaciências,
cedo ou tarde quando amanhace.
Na montra apertada do mundo
as horas não marcam o tempo
e tudo o que depressa arrefece
depressa o sol aquece.
Assim, na ilusão do espelho,
cada procura ansiosa do ver
se desfoca em suor e nos mente.
É gume ou faca.
Alguém grita sem língua nem boca,
de repente.
Olho suspenso,
agonia dele ao aviso aparente da lâmina,
estridência dos reflexos e do sangue,
tudo se exalta e tudo se recria,
inevitável,
responsavelmente,
Meursault respirando azul
ou um rosto que desconhecemos, baço,
e a cadência dos passos lassos,
surdos e quentes
e um brilho súbito
contra a paisagem
ou a areia incandescente
reflectida no olho suspenso.
O sol na lâmina, insuportável,
a faca faísca branca, o sol a pique,
e um tiro maquinal,
breve, seco,
sem alma nem razão,
tão absurdo como a realidade em volta.
Um vulto branco, tombado, talvez alguém.
Espuma dos dias, o mar de Maria.
Um ruído doce de águas, além,
e a espera, a natureza sem nome,
coisas, apenas coisas em volta,
talvez estilhaços do espelho
que nunca reflectiu nada
nem ninguém,
gaivotas voando em volta.
Um vulto tombado.
Um céu azul.
Areia clara.
A espuma do mar.
Quase nada.
Quase tudo.
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4 comentários:
O que quero
É o que não quero
Para mim.
Enquanto um reflexo
Me conduz cá dentro
Ao problema.
Para dentro!
E mais para dentro vou.
Mais que sentir na alma
Um existir constante...
Mais que eu!...
E é daqui que vou
Ao interminável,
Seguindo além de DEUS.
Ontem...
Andei sozinho
Toda a tarde,
Até sentir-me nada
Em cima de meus passos.
E os meus olhos
Sentiram-me depois
Além do meu andar.
Mas não eram os meus passos
Que me davam a certeza
De andar...
Nem eram os meus olhos
Que me davam a presença
Dum além...
Meus passos
Eram somente
A certeza da presença...
E os meus olhos
A presença de me ver
Além de mim.
Pain-Killer
Assim como Mersault, penso que todos nós sentimos ou sentiremos um dia, a grande indiferença que o Universo tem pela Humanidade.
Abraço-o, meu bom amigo.
Miguel
Quanto mais leio mais gosto, Enquanto a Daneila chora.
Tento entender
O absurdo que é a vida,
Enquanto a lógica me ignora.
Não faz mal, vou ler outra vez e outra e mais outra...
Ou tantas vezes até que a compreensão decida deixar de brincar comigo.
O espelho reflecte o mais importante.: aquilo que não é visível.
Fique bem, João.
Miguel
As suas incursões na poesia deixam-me seriamente presa a ela e eu não sou o que se chama uma amante incondicional desta forma escrita.
E depois, L'Etranger é o meu livro de culto (publicado no ano em que nasci). Encontro-me em Meursault como na poesia de Pessoa, conheço-lhe todos os passos; traduzi cada frase, cada palavra, da primeira à última linha. Encontro em M. muito do sensacionismo pessoano.
As imagens precisas que escolheu dizem todo o livro: o mar, o céu, a areia da praia.
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