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terça-feira, novembro 10, 2009

TRANSPARÊNCIA E UM RELÓGIO DE HORAS



Água verde mas límpida.
Translúcido espelho amarrado
ao muro de pedra já ferida.
Velho espelho em casa da avó,
tão velho como o relógio centenário
preso à parede, rachado e só,
sempre a bater as horas
sobre um obtuso relicário
no qual se eflectia
o arrastado ranger da corda,
essa espécie de coração
cujo rumor de concavidade
se faz sentir no quarto exíguo
pelo frio de pedra
ou pelo circular rigor do tempo

Um comentário:

Miguel Baganha disse...

Pontualmente, a sua memória exorcisando coisas e sentimentos, brinda-nos com um lirismo poético muito próprio de si. Uma transparência que revela o outro-eu ou o heterónimo tiquetaqueando o coração de qualquer poeta.
A alma vive disto.

Quanto mais o leio, mais o conheço e admiro, João.

Um abraço