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segunda-feira, dezembro 20, 2010

DECIDIR O LIMITE TERMINAL DO SOFRIMENTO

foto de rocha de sousa

A questão da vida é questão da morte. Só a morte significa a vida. Albert Camus, em O MITO DE SÍSIFO, escreve: «Só há um problema filosófico. o suicídio.» Se estivermos perante um suicídio por nada, só porque sim, porque basta, mais nos interrogamos sobre o sentido da vida. E muito dificilmente aceitamos que o sentido da vida é ela não ter sentido nenhum. Que o próprio homem pode decidir contra a vontade de Deus. Pode pensar: estou em sofrimento e não sei porquê nem para quê. O absurdo desse sofrimento pode iluminar-se com as minhas próprias mãos, pelo livre arbítrio, através da porta de um suicídio dignificante. O problema de decidir sobre a morte, dignifica a indignidade de um sofrimento sem fim, como o de Prometeu agrilhoado, é um problema que respeita à consciência e ao poder que Deus nos legou. A eutanásia, como forma de superar uma dor ignóbil, o prolongamento de uma falsa vida vegetativa, atravessada por breves instantes de consciência no horror da total dissolução da carne, é verdade iluminada, é escolha do limite no limite, é o acto supremo da solidariedade. Só as situações extremas, tantas vezes ilustradas pela guerra, podem explicar o apelo o apelo à morte ajudada. Há situações de combate em que uma baixa súbita, completa, coexiste com a baixa por ferimento não imediatamente mortal mas sem a menor possibilidade de retorno: coloca-se um garrote na perna esfacellada e o que resta dela morre em poucos minutos, fora da consciência. Ao longo de uma hora, o garrote já não trava o fim e há no interior do corpo hemorragias irreversíveis, submetendo o paciente a dores insanáveis, à perda da fala, à proximidade da morte minuto a minuto. Restam dois companheiros com confortam o moribundo, com risco da própria vida e com as comunicações rádio cortadas, incapazes de administrar o tempo e o tempo de aproximação das forças contrárias. O vivo quase morto atravessa um brevíssimo instante de consciência e exprime aos outros, com os olhos, que lhe cerrem as pálpebras. Carregados de ideias feitas, a força inibitória de certos lugares comuns, ainda hesitam muito tempo. Há duas opções neste caso anti-natura: eles acaam com o sopro de vida do companheiro claramente condenado ou eles esperam, procurando perceber se o companheiro já morreu ou ainda não, dúvida que os mata aos três com o rebentamento de um morteiro ali mesmo, dentro desta mistificação da vida, do heroísmo, em pleno espaço do absurdo. Em muitas situações em que o dilema se coloca, em casa, nos hospitais, na solidão, a eutanásia tem o sentido da bem-aventurança dignificante. Quando alguém se encarniça sobre um semi-morto, administrando-lhe fluidos de efeito curto, não eternizável nem curador, esse alguém renega a força da razão e o sentido da medida, do tempo, do limite moral