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quinta-feira, junho 02, 2011

IMAGENS DE GENOCÍDIOS CONTEMPORÂNEOS

entre os conflitos que ainda hoje estão a começar um pouco por todo o mundo, evocam-se genocídios que marcaram o século XX e que nos despertam para o futuro, tendo em vista o que há bem pouco tempo ocorreu em vártios pontos do globo, a fragmentação do que foi a juguslávia e o horror em certos países africanos
como aconteceu no Burundi, 800.000 mortos que não tiraram o sono aos europeus, nem perto da linha que tanto atrai a NATO para a Líbia.




Ontem, ao entardecer, entre coisas indevidas por todo o chão, havia gente no passeio, entardecendo, murmúrios de gente que nem movia os lábios, gente curvada, pisando as folhas, passos lentos. Ao entardecer, ontem, eram velhos aliviados do peso da vida sem rumor nem temor por isso. Eles ladeavam, em deriva, a ideia da morte e os lugares dos mortos para sempre. Lugar negro. Passo a passo. Perdidas as sandálias no chão invisível, e nem sequer se dava por um fio de matéria pisada, passo a passo, pés descalços entretanto, as pernas nuas sob o manto das horas acabadas. Horas acadas assim, até a brisa se confundir com o bafo das meias palavras no curto pisar das folhas, passos quase longe, um riso curto de si mesmo. Chegaram então as luzes. Ou surgiram miniaturais no horizonte crispado. Era um cerco de luzes parando os passos, retorno torneando os que estavam ficando, temor no urmor vindo dos lados todos. Os que vinham em silhueta, vinham sem olhos, todos cegos entra a venda contra as pálpebras e a mordaça nas bocas, porque as falas também dão a ver, ver sobretudo por cima daquele rumor abrangente, a crescer, vasto círculo aumentando o seu espaço para negar a natureza do seu centro onde se viam, finalmente as populações emigradas. desatentas, temendo coisas estranhas e muito mais inquietantes do que o relento das noites. Ouviam-se ordens rápidas e ríuspidas, de longe, de perto, em volta, luzes afinal cegando quem estava livre de ver. De súbito, uma imensa e rangente trovoada rompeu o espaço, rente às cabeças apertas pelas mãos. Era um som a rolar atrás de uma chuva de estilhaços ou mais de cem mil tiros soltando-se em rajadas sem parar, rente, laminatmente, como a grande foice do Apocalipse. E a luz começou então a tremer, com tanto fogo e tantas sombras, gente de súbito irreconhecível, parecia tropeçar, desistir da corrida, ferida, e já ali perto montes e montes de mortos, atirados sem ordem no acaso dos casos, sobre moribundos que procuravam renascer, clamado, impróprios, pelas mães que já ninguém sabia quem eram. Que foi isto? Quem nos quer tanto mal? Arcanjos de asas pretas, diziam duas velhas já de luto.


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Rocha de Sousa

2 comentários:

Miguel Baganha disse...

A ímpar grandiosidade das suas palavras contrasta, enquanto descreve, com as monstruosidades do Homem. Vermelho (não preto) sobre branco, tal como sangue derramado sobre inocentes.

Dramaticamente belo!
Com saudade, saúdo-o, mestre.

Abraços

jawaa disse...

Um pedaço de prosa que identifico como muito sua, uma perfeita e minuciosa cena de um filme de terror que poderia situar-se realmente na Sérvia, Palestina ou Afeganistão, no Darfur, na Somália ou no Congo.
Umberto Eco encontraria aqui material de luxo.
Pela parte que me toca em relação a um cenário de guerra, quem o vive não o sente assim (leia-se Angola 61). Isto vê o cameraman.