Rocha de Sousa, foto: massacres na Síria
A Síria, acometida pela mesma vontade que trouxe a Primavera Árabe, viu parte da sua população manifestar-se contra o regime de Bashar al-Assad. As pessoas manifestavam-se contra a ditadura, contra a falta de liberdade, contra a precariedade. Foram mal toleradas tais expressões de vitalidade: muito em breve, Assad deu ordens para que a vida pública voltasse ao normal. Mas forças do regime agiram com excesso de Zelo e desencadearam formas de repressão muito violentas, prolongando o cerco das cidades e recorrendo ao seu sistemático bombardeamento. O património urbano desfazia-se, ganhava simbologia, tudo se tornou inabitável. As primeiras vítimas contavam-se pelas dezenas, mas os prisioneiros foram encerrados em quartéis-prisão e submetidos, segundo testemunhos insofismáveis, a torturas de assombro, que geravam muitas vezes a morte.
Apesar das vozes da comunidade internacional, o avanço dos bombardeamentos tornou-se cada vez mais violento. Os rebeldes cobriram frequentemente a retirada das populações, a longa fuga para campos montados na Turquia. Os massacres continuaram e a Rússia e a China, que tinha impedido no Conselho de Segurança da ONU sanções contra a Síria (a brutalidade destruidora das forças do regime, cada vez provocando mais vítimas e degradando um imenso património urbano) associaram-se então ao voto punitivo, a estudar consoante as circunstâncias. Kofi Annan foi à Síria e tentou negociações de paz, a análise dos pedidos e o recurso às soluções consensuais. Foi instaurado um cessar fogo. Era urgente começar a resolução do problema. Mas o exército Sírio não respeitou o cessar fogo e incrementou mesmo alguns ataques arrasantes. Tinham desaparecido os pássaros, os próprios bichos domésticos, o silêncio tardio era fustigado, de quando em quando, pelo exército «regular». E há dois dias, cercando a cidade de Houla, usou bombardeamentos assassinos e entrou pelas casas, matando famílias inteiras, numa condenação sumária que foi estendida às crianças com tiros na cabeça e, noutros casos, recorrendo à degolação. A comunidade internacional reagiu, tentando evitar uma guerra civil e a hipótese de que todo o Médio Oriente se incendiasse. Só naquele dia houve 100 mortos e 300 feridos graves. Tudo tarda. Os governos ocidentais temem, mais do que as memórias do Afeganistão, Iraque/Irão, conflitos com Israel. Temem a importação de um estranho Vietnam e olham cansadamente para os efeitos da crise financeira actual e para os emigrantes e os fantasmas onde gritam sérvios e a fragmentação de todo esse nó em plena Europa.
Um comentário:
Bela a foto, o sangue a escorrer.
Não há como fugir à guerra civil, os homens acendem o fogo e agora não há como controlar.
A Europa, sim, envelhecida, cansada e sem saída.
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