Páginas

sexta-feira, outubro 18, 2013

O ROSTO DOS ANOS DE BELEZA, COM ESPERANÇA


A propósito de um festival de cinema, este rosto é convocado e a sua beleza, aqui um pouco triste, parece lembrar-nos o caminho que tem sido imposto aos sonhos do futuro, agora ou amanhã, na desilusão dos eventos massificados e da crise que se estende por todo o ladoAbrem-se as mãos para receberem a verdade ou a ilusão, presença outrora simbólica, um tempo em que eu mesmo esboçava pela pintura, de forma diluída e talvez lírica, a memória das batalhas medievais, ou do próprio século XX, indagando uma certa beleza enevoada que mal encobre o sangue ou a morte. Hoje combatemos nas ruas, contra a cegueira dos poderes instituídos, as regras sombrias de um capitalismo mundial que se esbanja e logo é encurtado por fora dos muros das minorias assim escondidas, entre tesouros que banham a sua inominável e faraónica fortuna. E o que resta das sociedades reparte-se entre a ferocidade das ruas e os desertos dos grandes concertos na alienação.
Polanski chamou esta mulher e fez com ela um filme de psicoses e fantasmas. O rosto dela aparecia belíssimo, apesar de ter este aspecto de que perde a alma ou de quem espera que o amanhecer contenha espíritos salvadores, o apaziguamento do mundo em volta.

 

Esta minha pintura, branda nas cores mas escorrendo de uma altura  sombria, parece sobrar de vestes e ferros belíssimos, por fim encontrando, na dobrada  fragmentação, o delírio dos finais apocalípticos entre eventuais descansos brancos, os restos dos apetrechos, as mãos do combate e da prece, as vestes meio rasgadas, tudo enfim de outro modo, como que anunciando a queda ainda em vida, em câmara lenta, na esperança de que as feridas se apaguem e o sol arrefeça durante as horas das orações. Nunca mais a maldição dos  senhores.

Nenhum comentário: