Albert Camus teria hoje cem anos
No Expresso de hoje:
É recordado um dos mais importantes intelectuais do século XX. Hoje quase esquecido e pouco lido, lutou contra todas as formas de totalitarismo e contribuiu com os seus romances e peças de teatro para iluminar a condição humana num tempo de trevas mortais.
Quando recebeu o Prémio Nobel, Camus disse, em certa passagem do seu belo discurso:
«A arte não é para mim um prazer solitário. É uma maneira de comover o maior número possível de homens, oferecendo-lhes uma imagem privilegiada dos sofrimentos e alegrias comuns» Discurso da Suécia.
«A pobreza e a velhice dos lugares irremediáveis, estações terminais de uma vida sem sentido nem escolha. Constitui aquilo que os intelectuais e o existencialismo empacotado gostam de chamar condição humana e que, no seu etéreo assento, desconhecem e temem.»
Nos apontamentos autobiográficos dos Carnets, onde Camus demonstra o virtuosismo da escrita, lê-se o resumo da sua vida física e mental:
«Sempre pensei que aquele que espera alguma coisa da condição humana é um louco, mas o que desespera é um cobarde.»
Citado por Clara Ferreira Alves no Expresso de 2.11.1013
É hora de prestar de novo a nossa homenagem a esta personalidade de indizível grandeza, o escritor que nos deu a ler «O ESTRANGEIRO», obra que marcou para sempre uma consciência moderna da literatura e dos valores humanos.
«Não chegam vozes, nem anjos, nem milagres: a ausência da suprema ajuda é a revelação do embuste em que nos fizeram conscientes, criadores quase insuperáveis, mas bem depressa condenados a se apagarem. Dizia uma tia minha, lavradora no sul, afagando o enorme saco cheio de milho: Deus? Nunca dei por nada. Por esta terra fora, só os homens e as mulheres estão iluminados até ao momento em que morrem. E deles, como de Deus, nunca mais haverá sinais. Este é um mundo sem razão.»
do livro «NARRATIVAS DA SUPREMA AUSÊNCIA»