Foram muitas as formas que o Homem tomou, a par de outros animais, até alcançar as configurações de várias raças. Na marcha da humanidade, esse ponto de chegada cobria partes significativas da geografia do mundo em grandes continentes. Os povos seguiam longos trajectos na busca da vida e dos modos de progredir dia-a-dia, faziam-se em persistente nomadização, pausas ponderadas, ritualizadas, com manejo de certas escolhas na manutenção dos meios de conservação dos atavios e das peças da comida arrancada à Natureza.
Milhares e milhares de séculos mais tarde, a evolução da espécie ganhava núcleos bem caracterizados como grandes grupos a cuidar de mais tarefas, comunitariamente, numa fase sedentária, inovadora, capaz de produzir lugares de trabalho ou de raiz urbana.
Mas a grandeza e as manifestações incompreensíveis que alcançavam o espaço em volta começaram a assombrar os humanos, tendo eles de misturar esse medo com o trabalho de sobrevivência sempre presente, por vezes em revelação de urgência. Os ventos, as tempestades, as catástrofes devastadoras, tudo isso obrigava a fugas para as montanhas, havendo que refazer nas encostas e nos vales outras culturas de bens, os primeiros esboços de lugares urbanos.
Outros povos encontravam esta azáfama, imitavam-na, tentando apropriar-se das ideias e mesmo dos materiais trabalhados. Das escaramuças assim acendidas se passava a brutais confrontos de povos nação, fios de luta e conquista, maus sonhos que afligiam as populações, forças guerreiras cada vez mais dominadas pelo fabrico de armas, em pedra primeiro, em metais depois, pelos milénios fora, sempre até aos mais sofisticados meios e combate, em terra e no ar ou no mar, de mistura com a concorrência entre exércitos, na conquista e saque de muitos bens, pessoas e ricos ornatos, consoante a era desse crescimento feito de misérias e riquezas, de compromissos e acusações religiosas.
Assim se fizeram e desfizeram civilizações. A cultura dava-lhes um rosto e uma densidade de espiritualidade e sabedoria. Artes e Ciências. Liturgias e deuses anelados no tempo, todos parecidos em duas ou três salvações eternas, entre preceitos dogmáticos.
Em cima, ao alto, um nicho sem nome, aconchega figuras brancas, angelicais, eventual símbolo das religiões mais mansas -- e daí olham um horizonte indeterminado de despojos, destroços, corpos exangues, ferros, restos de máquinas que foram explodindo ao longo do tempo e dos conflitos e talvez da derradeira guerra global, templos e cidades perdidos em ruínas e depois perdidas as próprias ruínas pelo ódio à sua memória. Um corpo grita em silêncio. Um corpo jaz num resto cúbico, fino dourado coberto pela luz solar enviesada. E aquele homem de há meses, dois ou três anos apenas, simétrico na dor, os meninos mortos e apresentados em ângulo, bandeja de braços sofrendo o sentido daquele número que a pele da vítima ostenta.
O mundo construído foi produtor de saber e de cultura, dados nos quais a civilização não terá nome -- e, verdadeiramente, perderá a própria existência. Perder a civilização e as suas culturas para destruir os seus próprio restos, entre mortes, águas nocturnas, e assim pedindo aos outros, as mãos estendidas, novas terras, novos deuses, tudo ao vento de nada, a mente opaca, a memória vazia, isso confere à humanidade um rápido estado de extinção.
os refugiados na actualidade, tentando salvar-se
da guerra na Síria e do horror espalhado pelo Estado Islâmico
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