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segunda-feira, maio 26, 2008

ILUSTRAÇÃO para SEGREDOS CONVENTUAIS



Ali se encontravam, em metáfora, os corpos trucidados nas guerras de Alexandre, os membros e os torsos de primitivos cristãos massacrados e comidos pelos leões, no Coliseu de Roma, pedaços, enfim, daquela Grécia grosseiramente imitada que o velho Macedo Vieira, com benigna invenção e ciência persuasiva, nos dava a ver, numa grandeza bem longe das falas abrangentes e pitorescas de Hermano Saraiva na televisão. Naqueles fundos corredores e permissivas prateleiras, sombras envolvendo os gessos, noites entre as sombras, pombos de manhã, dali poderia retirar-se um amanhecer em Atenas. Abrir os moldes como cascas de dinossauros e revisitar concavidades de imitativas convexidades, esse era o apelo de qualquer visitante de tão complexos meios de ressuscitar os heróis e os santos, um lugar fragmentado pela grande geometria em pedra, em abóbada, lugar, também e de certa maneira, onde repousava mais de um milhar de virtuais estátuas da antiguidade clássica, muitas delas servidas no jeito de prato insubstituível nas aulas de iniciação à pintura, anos atrás. Em geral, as «pedras» amarradas por fitas flexíveis ou meras cordas, arames aqui e além, sobravam para uma inesperaa abstracção, assim entaladas nas reentrâncias sombrias, por cima das prateleiras, cemitério inenarrável de formas que se afirmavam humanas, corpos utilados, restos marcados por infinitos códigos de martírio póstumo

Um comentário:

Miguel Baganha disse...

João,
segredos conventuais existirão sempre nas mais diversas matérias, escondidos por debaixo de uma qualquer ditadura governamental ou até mesmo na superfície bolorenta da conveniência dos "lobbys" comerciais.
Mas os "lobbys" existem, simplesmente porque a sociedade é conivente com este sistema negligente e sórdido, mesmo quando o cheiro bafiento da hipocrisia e corrupção passeia debaixo do seu nariz.

mestre, devo dizer-lhe que a sua obra (literária e plástica )para mim, vale porque já existe.E ela vale acima de tudo porque é a projecção da sua perspectiva idealística : visionária, muitas vezes retratando temas actuais mas duma forma ímpar, pouco ortodoxa sempre com um olhar no futuro, como que adivinhando qual será a evolução do Homem.

Contudo, gostaria de ver o seu valor devida e merecidamente divulgado contrariando assim a tal necrofilia da arte, vulgarmente chamada de reconhecimento póstumo que tantos autores atinge.
Pois eu cá acho que já temos mártires que cheguem!

João Rocha De Sousa, um nome que JÁ FIGURA entre os maiores artistas de todos os tempos.

Até breve mestre,

Miguel-seu-excelso-pupilo


P.S. Boa ilustração ;-) 17 pontos