Este livro, alegoria inquietante povoada de gente envelhecida e alguns traumatizados da guerra, começa por nos sugerir um espaço invulgar, entre próteses arquitectónicas improváveis e a quase prosaica imagem de um centro de acolhimento votado sobretudo à terceira idade. Como que saída de um passado indeterminado, não propriamente longínquo, A CASA mergulha numa paisagem exterior sem limite, após jardins mal tratados e vedações atrás de vedações, acrescentada, através dos tempos, de novos pavilhões geminados ao estilo inicial, na urgência de uma demografia trabalhosa, gente meio perdida, pessoas solitárias e sem memória, ali procurando conferir ao resto das suas vidas um resto de dignidade ou de conforto. Mas a imagem do mundo infiltra-se nesta multidão acossada por muitos problemas de saúde, de abandono, restos de retratos amarelecidos, talvez segredos de família, porventura afectos guardados em vulgares caixas de cartão.
O quotidiano desta população, na sua diversidade e grupos mais relacionados, enche de tumultos iniciais estas páginas, numa relação complexa entre cada pessoa, cada saudade, e as regras de serviço, as enfermeiras e auxiliares que fazem por dar uma continuidade razoável aos velhos, a meio das refeições, tratamentos, conversas patéticas, e também a presença ainda forte (mas abalada) dos «hóspedes» mais novos e cuja mente parece gravemente afectada pelas sequelas da guerra ou pela batalha das grandes cidades.
Narrativa visualmente apelativa, antropológica, marcada por uma sociologia do sofrimento, este romance faz-nos reconhecer ideias e perdas contemporâneas, aproximando-nos da condição humana no quadro de uma espécie de desertificação anunciada.
Um comentário:
A imagem da capa é muito apelativa, o que vem a seguir é com certeza outra imagem dura de realismo anunciado.
Desejo-lhe o maior êxito neste novo empreendimento.
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