É voz corrente dizer-se que «as árvores morrem de pé». Em correspondência com esta sábia sentença popular, Maria Matos, ao que supoho ter sido o seu último espectáculo no teatro D. Maria, terminava a sua actuação na peça que fora intitulada com aquele título, olhando, muito direita, a quem devia olhar e, tendo bem assente a sua begala, a mão tremente. E dizia: «As árvores morrem de pé!»
Assim acontece com este eucalipto, cuja inclinação é aparaente pelo uso do plano contra-picado: viveu, com a sua habitual soberania, perto da margem de um rio. Os homens exploram este monumento vegetal, peimeiro mais pela ornamentalidade das separações territoriais, depois sem qualquer amor pela sua natureza algo arrebatadora: foi, até agora, o uso do eucaliptal, de crescimento rápido, poderoso de massa explorável, perverso quanto à sua insaciável sede em apreciávis extensões de terra à sua volta. Quandoa sua presença se inutiliza e a sua carne tende a ser cobiçada pelo mercado, as serras mecânicas vêm cortar, um pouco acima do solo, a peça cujo talhe terá as aplicações entretanto suscitadas.
Ao contrário, na imensa Amazónia, lícitos ocupantes da terra dedicam-se ao corte em vida de muitas árvores de grande porte, devastando por dia superfícies equivalente e quatro campos de futrbel. O cheiro da madeira sangrando é inebriante. Após o corte, um pequeno gesto da mão precipita a queda da árvore. Essas grandes plantas, sempre dignas na sua função revitalizadora do clima, tombam com enorme fragor, flagelamdo os ramos inteiros das suas congéneres em volta. São árvores que também se abatem, e ainda vivas, porque os seus assassinos, saindo de uma clandestinidade mórbida, assim delapidam patrimónios indispensáveis à vida na Terra, triturando cada pedaço de vazio para eventuais cultivos igualmente perversos.
Ao contrário, as pedras significadas pela modelação humana, vivas equanto coordenadas com outras nas grandes fachadas de palácios e mansões diversas, são menos poupadas pela fúria das batalhas (e até dos elementos naturais), ofercendo-se, na racionalidade das suas espirais, molduras ou capitéis coríntios, ao abandono no espaço, espalhando-se pelo terreno em redor, como se tivessem decidido engtre si um suicídio carregado de légica, de paisagem, de seculares esperas som um mínimo sopro de descfomdorto. As imagens uscitam algum entendimento desse percurso, dessa morte sem verdadeiro reaproveitamento, seres vindos do além, que contrastam com as plantas verdes caprichando em crescer à sua volta, por vezes enconrindo bocados de curvas, animais escultóricos, patas de leão lascadas sem remissão a altura do tornozelo. Um dia, depois de tempos, as pedras modeladas ainda poderão encontrar-se no mesmo sítio, cremadas por um al brasardor.
As árvores morrem de pé mas são abatidas pelo homem para ficarem à sua disposição, mesmo num mundo futuro e cinzento, quase sem vida, rodando no espaço segundo especiais diretrizes do acaso cóamico. Não gaverá então madeiras capazes de servirem para muletas, nem metais, nem oficinas apropriadas. As facas, pequenas ou grandes terão de ser de novo usadas pelas mãos humanas, rodadas, encravadas, apertadas por longos fios de pele de animal.
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fotos de Rocha de Sousa
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