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terça-feira, julho 21, 2009

MENINA CIGANA E O VÉRTICE DO SEU OLHAR

foto do autor do bloga

Olha para mim, pequena, os meus olhos estão atrás desta máquina. Olha bem para este vidro, o teu rosto está dentro dele, a olhar também para ti. Assim, ficas esperta e com o medo do teu estrabismo. Vieste à praça? Vieste com a tua família? Vives além no cerro, aquele do moinho em ruínas? Agora podes conversar comigo, já consegui meter aqui dentro o teu retrato. Queres ver? Espreita para esta janelinha. Aquela menina és tu. Claro que sim. Não, fica tranquila, eu só copiei a imagem da tua cabeça. Pronto, eu sei, nunca vista a cabeça dentro da máquina. É verdade. Esta engenhoca é diferente, mas não rouba o rosto ou o corpo de ninguém. Passo a mão pelos teus cabelos encrespados, não sentes? Não desapareceste do teu lugar, estás inteira, aceitas o meu abraço, queres olhar outra vez para o vidro. Aí estás tu de novo. Abana a cabeça, isso, de um lado para o outro, e lá no vidro é como num espelho. Quando sais do espelho a tua cara não permanece dentro dele. Além de não ser máquina, não tem mais nada para registar. Agora, este vidro redondo, que se chama lente e pode reflectir imagens, está a funcionar mais ou menos como espelho, perto de ti, e tu não voltas para dentro da máquina porque eu não toquei nestes botões. Espreita a janela, cá atrás. Não está nenhuma menina como a outra de há pouco. É tudo a fingir.
Ela riu-se, desviando o corpo, limpando as mãos suadas ao tecido da saia. Olhava-me de lado, começava a afastar-se. Tinha pena, queria saber mais, mas o pai, cigano do cerro, estava na tenda, além, meio deitado numa cadeira de lona. Ele quer sempre os filhos por perto e de resto há pouca gente na feira, mais na praça, os gritos de oferta e chamamento perdem-se no ar, voam com os pombos para as frestras abaixo das telhas de vidro. Fogem, os gritos, logo acompanhados por outros, entre as hortaliças e a bancada do peixe. A menina cigana ainda me olhou de longe, o dedo na boca. Talvez tivesse percebido que eu não sou um caçador de cabeças. Registo, com doçura, imagens sempre bonitas de rostos sempre vivos, olhos nos olhos.

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Uma foto belíssima!! Beijos.

naturalissima disse...

Bonito encontro.
Delicada troca de olhares para além de um registo fotográfico. Um toque de comunicação de grandeza humana. Bela lição de como é tão fácil fazer sorrir outro ser. Basta um simples clique olhos nos olhos para fazer a diferença.

maravilhada, eu

Anônimo disse...

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