segunda-feira, setembro 12, 2011
AS SOMBRAS DEPOIS DE REVISITADA A CASA
Cidade do sul, queimada pelos anos incandescentes, entra por aqui o vento inteiro, bandeiras esquecidas no tempo.
Janelas abertas para a rua,
tantos silêncios acesos na lembrança,
o vento devagar pela manhã pálida,
tristemente calados há muito os sinos das fábricas.
Janelas abertas para a rua, idade das flores e das casas,
ruínas de velhos quintais, cortiça ardida há quanto tempo...
Trabalha as agulhas e a lã,
malhas sobre malhas
ou evocação das antigas tecelagens em tear
Cidade das flores e da casa velha,
janelas abertas para a rua,
somas e somas de silêncios tantos.
Tudo para relembrar, ao contrário das horas,
os passos pensados em direcção à luz, a casa.
Tudo para relembrar ao contrário das horas.
Textos sem história, silêncio, penumbra.
Vidas a meio, devaneios, alegrias e filhos.
Gavetas cheias de coisas breves,
papéis rasgados, velhos casacos de malha,
belos artesanatos da vida em casa, serões, luares.
Silêncio.
As horas ao contrário, as agulhas e as lãs,
malhas sobre malhas.
Famílias inteiras fugindo para a distância
e o tempo visitando a casa toda
como se fosse pela primeira vez,
visita a visita,
ao contrário das horas
Fragmento, com evocação
de planos de
«A Casa Revisitada»
e recolha do texto da banda
sonora, que sublinha,
em murmúrio, por evocações
e falas de sopro, os sonhos
vividos ou construídos
na orla da consciência.
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Terça-feira, Fevereiro 13, 2007, escrevi em um dos seus posts (A CÂMARA CLARA), o seguinte comentário:
«Gostaria de sentir-me
Para sentir que me sinto
Realmente.
Saber
onde me encontro autenticamente
Para depois
Tentar perceber
Se o tempo existe.
Por vezes, também eu ao rever(?) certas fotografias onde a minha suposta aparência física parece autenticar a minha existência, sinto um vazio ao tentar descobrir o que significa aquele momento,
Aquele reflexo...de mim(?).
Já reside em mim, uma profunda admiração por aquilo que escreve, João. Ao longo deste curto período virtual, aprendi imenso com as suas reflexões, onde a sua vontade insaciável do querer, da vontade de descobrir sempre algo mais, é expressa com uma paixão e sabedoria notáveis. Espero um dia, desfrutar "in loco" da sua tão peculiar e fascinante perspectiva de vida, será uma honra conhece-lo pessoalmente.
Lamento,(acima de tudo por mim)não ter a disponibilidade que gostaria para o visitar mais vezes. Tomara que o "tempo" me faculte essa possibilidade no futuro...que espero breve.»
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Hoje, sexta-feira, 23-09-2011, tudo isto são lembranças. Boas. Tempo. Passado. E, dentro de mim, reside agora um sentimento profundo e legítimo de que tudo mudou. Tudo, menos a admiração que tenho por si.
Deixo um excerto de um dos seus livros (sabe a qual pertence?).
«Numa pausa, pouco depois, não posso saber bem, lembrei-me da luz e ergui os olhos. Tudo havia mudado.»
Obrigado pelas intervenções sempre pedagógicas...«esrevendo torto por linhas direitas». Adorei conhecer a "casa" e já fazer parte de algumas revisitações, amigo.
«Em murmúrio, por evocações
e falas de sopro, os sonhos
vividos ou construídos
na orla da consciência»,
abraço-o.
eusóeu-e-não-o-outro,
Miguel Baganha
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