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sábado, março 31, 2007

BREVE VISITA À OFICINA DO FREDERICO




fotografias de Rocha de Souss
Estas imagens foram recolhidas num largo espaço onde funciona uma oficina de automóveis. E embora seja aqui, desde há muitos anos, que procedo a revisões e arranjos no meu carro, a verdade é que algumas das minhas visitas decidem-se mais como a procura dos mecânicos amigos, trocando palavras e fazendo deslizar o olhar, em deriva, pelas montanhas de peças, estruturas, operações diversas, quadros eléctricos, motores abandonados, guindastes, ferros desfuncionalizados, ferramentas, várias cirurgias ao coração dos carros. A minha presença, por vezes, ao fim da tarde, arrasta um olhar panorâmico e dorido, a procura dos locais onde costumava encontrar o dono da oficina, o senhor Frederico, homem ainda novo e sem dúvida um dos mais extraordinários mecânicos que jamais conheci.
Passaram talvez dez anos, não sei bem. Ao sair de manhã, um dia, deparei com um grupo de pessoas que rodeava um carro, talvez fruto de algum acidente. Mas não. Era o carro do Frederico. Ele chegara, estacionara, ficara um pouco a olhar em frente, como sempre fazia, e de súbito a cabeça tombara para a frente, sobre o volante. Morrera assim, sem mais. Ele nunca deixaria que nenhuma das máquinas que tratava sucumbisse assim. Só que não usou consigo mesmo o método que sempre escolhia profissionalmente. Ficou durante cinco horas estendido no passeio, revestido a plástico, esperando com a mesma paciência de sempre a chegada do Delegado de Saúde.

Um comentário:

Miguel Baganha disse...

Depois de tantas tentativas para editar um comentário extensivo e algo cansativo, que este sistema se encarregou de apagar, bem como o que aconteceu com o Frederico,( mas este terá sido outro sistema...mais natural ) deixo-lhe um abraço forte e de admiração, desejando-lhe um Domingo cheio de Sol...esperando que este clima agradável lhe potencie mais fotografias interessantes, que espelham sempre recortes do nosso universo cosmopolita.

INSUFICIÊNCIA e VULNERABILIDADE, são palavras pesadas, mas expressam bem a fragilidade da massa de que o homem é composto.
Gostei da breve visita á oficina do Frederico, onde a parafernália exposta é associável ás proteses da sociedade, que mais tarde ou mais cedo acabam por deixar de funcionar.

Deixo um bem-haja ao Frederico...um homem de paciencia...ou um paciente da vida...?

Bem....vamos ver se é desta, que o sistema permite o meu comentário...

Um abraço deste seu amigo,

MigueldaDanielaevossotambém