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domingo, março 04, 2007

EÇA DE QUEIRÓZ VANDALIZADO NA FANTASIA



fotografias de Rocha de Sousa


Por muito que se menospreze a estética e a permanência do monumento alegórico a Eça de Queiroz, que nos acenou durante muito tempo na passagem da rua do Alecrim, na praceta adjacente, nada justificava, e muito menos por quem o fazia cobardamente, a vandalização da escultura, amputações várias, pinturas como a que ainda macula o peito da fantasia, a beleza dos véus e os sonhos do poeta com os braços amparando a dádiva maravilhosa da poesia, da escrita, do entendimento da cortesia. Agora, enquanto o Camona foi preservado e arrumado modestamente junto do Pavilhão Branco, toda a estátua que sublinhava um vulto superior da nossa cultura jaz a par do Pavilhão Preto, um pedestal solto, a mulher maculada mas rica de juventude, o escritor, por fim, serrado pelo peito, resto indigno pousado na relva. Quem são os nossos maiores, afinal? Quando se decide preservar cuidadamente o nosso património cultural?

4 comentários:

jawaa disse...

Na verdade é constrangedora a imagem que mostra de completo desrespeito pela figura de Eça de Queirós.
Ia jurar que passei há tempos pela velha rua do Alecrim e vi essa imagem «diáfana» de brancura substituída por uma réplica em bronze. Recordo-me de me ter desgostado por isso, terei sonhado?

Obrigada pelas palavras deixadas no meu lugar. A vida é esperança e alegria, também incerteza; porque somos humanos, porque os desastres fazem parte, porque mantemos a lucidez.

Isabel disse...

Bom dia e muito obrigada pela visita aos meus "estados de alma".

Tenho de te confessar que há muito tenho vontade de escrever sobre esse monosprezar do nosso património histórico e cultural.
Que é um povo que não valoriza a sua história?
Que é um povo que não valoriza a sua cultura?
Já não basta o quase total desconhecimento de história que chocantemente assistimos hoje em dia.
A falta se cultura e até de noção do que é cultura generaliza-se numa época em que deveria acontecer o contrário pois a cultura hoje é acessivel a todos.
Triste e lamentável que tudo isto chegue ao ponto de vandalizar e monesprezar o nosso património cultural.
será que quem o faz pensa ou sabe o que é uma escultura?
Pensa ou saberá quem o faz o que representa Eça para a escrita?

Gostei muito deste teu post e deste teu alerta qualquer um de nós se pensar e olhar um pouco para as barbaridades que se vão cometendo dia após dia não pode deixar de ficar preocupado.

Tambem achei as fotografias excelentes, verei mais vezes visitar-te.


Até breve.

Isabel

naturalissima disse...

Porque tive um fim de semana ricamente preenchido, o que me impediu passar por cá para me actualizar, aproveito o momento para agradecer a segunda visita que me fez no último post e também manifestar o prazer que tive ao ler este seu olhar sobre o vandalismo marcado no património cultural deste País.

Um boa semana tiomeu
vemo-nos logo
Daniela

P. Guerreiro disse...

Independentemente dos factos a fotografia da "fantasia" é excelente...E com tanto significado, não só na estátua mas no A grafitado. Que conceito épico não traria esta fantasia anárquica a uma sociedade cansada, assustada dos progressos, vencida pelos medos do futuro que não controla, arrogante no uso das coisas...Uma fantasia verdadeiramente libertadora, primeiro o escuro, a ausência, a falta...
Que bem que criamos quando não temos o que nos falta, quando não encontramos cá fora o que nos completa por dentro...E por dentro construimos...Nessa fantasia anárquica...

Obrigado pelas visitas pelos comentários. É com enorme prazer que o visito. Infelizmente não com a frequência que pretendia.
A ausência de comentários não significa ausência de leitura.

Um abraço amigo de quem admira a sua escrita.