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terça-feira, maio 22, 2007

ENTRE MARGENS, MEMÓRIA DA REVOLUÃO

fotos de rocha e sousa

era pequena mas havia quem atravessasse
o Tejo até à praia da tasca do mestre joaquim

logo pelas 9 horas, quando tudo ainda
parece cinzento, já ele lá estava para
o mata bicho
os campos, para lá das dunas,
estavam bem salpicados de luz,
passava um ano, ano e meio daquele
1º de Maio em que fomos todos camaradas

pela estrada, as barracas dos pescadores ao fundo, a mensagem seguia o seu caminho

a tasca do mestre joaquim estava toda cacagada, mais parecia um cartaz do partido comunista e dos brasas

Eram horas do cafezinho

ala que se faz tarde.

ala que se faz tarde. Vamos para o cais apanhar o cacilheiro

5 comentários:

Isabel disse...

Queres que fale contigo.
Falarei.
Gostei desse jacto de escrita com que escreveste, gostei dessa quase raiva com que me leste.
Senti que me sentiste.
Sei o que viste e gostei que visses.
A minha escrita sangra e tu viste isso, sentiste também que me dói ao escrever...
Há no meu escrever uma transformação das realidades vividas no encantamento das palavras sentidas. Há também um desejo secreto que vejam o que tu viste.
Renasço sempre que escrevo... alivio-me.
Ser lida e entendida, sentida, descoberta por quem me leu é banhar-me em água fresca, não há alívio igual.
Param de doer por momentos as feridas. Um novo renascer esse o que se encontra cada vez que uns olhos pousam em nós e mais que olhar conseguem ver.
Obrigada por me teres visto.
Estou sim, assim, cheia de raiva, dor, cheia de rasgões internos que nada consegue curar... alívio apenas.
Mas sim, tenho asas, tenho forças, tenho paixão, tenho amor desmesurado, tenho incontroláveis e incontornáveis vontades de soltar essa raiva, de a pisar e espezinhar com palavras que arranco do fundo de mim... tenho incontroláveis vontades de maltratar a minha dor com palavras e com elas renascer também num voo encantado.
A dor faz ultrapassar todas as cobardias.
A dor prolongada ultrapassa todos os medos.
Está lá e habituamo-nos a ela, torna-se parte de nós.
Por vezes pareço esconder-me nas palavras, eu sei... não é assim, as palavras perdem a beleza quando nada é deixado para descobrir por quem nos lê.
Não escondo, filtro o leitor.
Filtro quem sente e quem não sente, quem vê e quem não vê, entendes?
Gosto de ser descoberta.
Gosto do conforto de ser descoberta... saber que fui avistada. Existi naquele momento tal como sou.

Muito obrigada por me teres olhado e sentido.

Foi especial para mim receber o teu jacto de palavras... sei o que sentiste... estive lá!

Muito obrigada.

Isabel

Isabel disse...

Ah... faltou-me dizer que adorei estas tuas memórias fotograficamente muito bem acompanhadas.
Nunca fui à tasca do mestre Joaquim e tenho pena.
Não me recordo do 1º de Maio e também tenho pena, era ainda uma miúda e para mim é parte da história.
Fica menos distante quando contada assim, na primeira pessoa por quem como tu dizes passou por esse 1º de Maio rodeado de companheiros.
Um pouco depois disso já no liceu a politica e as ideologias continuavam a fazer parte do nosso dia a dia e confesso que tenho saudades desses tempos em que as nossas açcões, as nossas posições, o nosso discurso era alimentado por uma base ideológica.
Hoje parece que apenas a análise económica importa... é triste parece que já não há nada por que lutar e no entanto eu olho á volta e continuo a ver tanta batalha por ganhar. A inércia generalizada faz com que se deixe ficar tudo como está... é pena!

Um abraço.

Isabel

croqui disse...

excelente blog!

belas fotos! quando quiseres expor no esquisso está à vontade!

voltarei com mais tempo!

c®oqui

Isabel disse...

É um prazer receber os teus comentários.
Tens o tipo de inteligência que mais admiro: a inteligência fogosa. Por oposição a uma inteligência fria.
As pessoas com inteligência fria ficam com o saber incompleto. Ficam aquém do mundo, das coisas, das pessoas.
As pessoas com inteligência fogosa são as únicas capazes de ter uma visão global e o mais completa possível, uma vez que verdadeiramente completa é impossível.
Estou atenta sim. Muito. Esgotantemente atenta por vezes.
Muito. A tudo. A todos.
Dói essa atenção quando o pensamento a alma e o coração precisam descansar.
Mas já não sei desligar a minha atenção.
Estou continuamente atenta.
Absorvo até transbordar.
A minha escrita sou eu a transbordar.
Queres que te diga como escrevo.
Digo-te:
Transbordo e ao mesmo tempo, sofregamente, tento beber tudo o que transborda.
Deixo-me derreter, como um gelado, e ao mesmo tempo lambo o que derrete para que nada se perca.
Deixo-me sangrar e chupo o meu sangue de volta para que nem uma gota me fuja.
Escrevo deitando para fora e metendo para dentro quase em simultâneo.
Escrevo como se fosse morrer a qualquer momento e quisesse morrer inteira.
Henry Thoreau disse:
"Se és escritor, escreve como se tivesses os dias contados, porque, na verdade, eles estão-no quase todos."
Escrevo assim porque realmente sinto os dias contados.
Escrevo automaticamente, sem quase, nunca sei sequer o que vou escrever.
Também finjo que é dor a dor que deveras sinto e finjo que a finjo apenas entendes?
A dor é lenta, dura uma vida, e soltá-la mesmo que no fulgor quente da raiva é um processo lento. Lento e penoso mas sem tempo.
Mas do tempo eu pouco sei.
Tenho com ele uma relação de amor ódio e quase total desconhecimento.
Do tempo costumo dizer que sei apenas que é redondo, que rebola, que passa, repassa, e nunca sabemos quando volta a passar o nosso tempo.
Como os tempos na escrita, são tão importantes, sinto-os tanto, sei-os capazes de fazerem sentir tanto. Sei que a veemência precisa do tempo de respiração certo para que nos leve no caminho desejado, mas aí sim faz falta um outro tipo de tempo (o tempo das horas) para que mais do que sentir se possa trabalhar sobre esse sentimento.
Falta-me tanto desse tipo de tempo (o das horas), tenho tanta pena que ele me falte, há tanto para corrigir, para melhorar, tanto de novo para escrever, tanto para reescrever, tanto para ler, tanto para reler, tanto amor para dar e tanto para receber das palavras.
Também são redondas as palavras e temos de as agarrar e ama-las no tempo em que passam por nós.
Desculpa, perco-me nelas e com elas.
Tens razão Fernando pessoa fazia isso genialmente, acertar os tempos da respiração com a veemência, em Álvaro de Campos e em todas as singularidades em que se multiplicava.
Mas chegar a ele é tocar o genial, eu apenas escrevo.
Sinto-me feliz (ainda que descrente da existência de felicidade) só por poder lê-lo, só por saber que as palavras dele existem e estão ali para que as possa ler.
Ah, as palavras!
Se soubesses o amor que lhes tenho!
Tão forte, tão intenso, tão de dentro, tão genuíno, tão meu...

O que me dizes soa-me a "tão teu". Nada que se confunda com pretensiosismo.
Gostava de ver mais dessa tua cabeça e desse teu coração multidisciplinares que, sim, estou a ver e a sentir. Como não?

Aguardo as tuas páginas se decidires um dia enviar-mas.
Seria um prazer e um orgulho.

Um abraço.

Isabel

croqui disse...

excelente blog!

belas fotos! quando quiseres expor no esquisso está à vontade!

voltarei com mais tempo!

c®oqui