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sexta-feira, junho 22, 2007

A GLOBALIZAÇÃO E A SUA SÍNTESE

foto que ganhou o grande prémio em Nova Iorque
Soy Sauce «Stand a Chance»
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A orquestração de banda contínua que se espalha a todo o mundo, absorvendo hipnoticamente quase todos os habitantes do planeta, pode fornecer-nos a utópica e terrível disciplina desta multidão compacta, cabeças rapadas, indumentária igual. Parece um fungo pronto a cobrir a pele do mundo. Mas são apenas representantes da civilização contemporânea dirigindo-se, em nome da globalização, para uma espécie de encontro com Godot. Depois de muita espera, anos e séculos, como se inferia da alegoria de Beckett. O resultado da marcha a duas dimensões comprime-se pela resolução do teorema da globalização -- e a imensa, a inquietante esfera dos corpos esmagados, comprimidos uns contra os outros, forma a grande esfera da salvação universal. Como já muita gente sabe, esta bola pousada não se sabe bem onde, cada vez em maior osmose e sufocação, terá um futuro semelhante à última imagem deste «post». Curiosamente, a fotografia que me serviu para esboçar esta analogia regista o crâneo do primeiro homem anatido com uma arma de fogo no continente americano. Este espécime foi descobeto por uma equipa de arqueólogos em campanha promovida pela National Geographic. Era um antepassado nosso, inca, e terá sido morto há 500 anos por uma arma espanhola durante o cerco a Lima, em 1536. Maior do que esse incêndio bárbaro desencadeado pelos espanhóis naquelas paragens onde duas civilizações foram literalmente dizimadas, é a barbárie actual, em dezenas de pontos do globo, antes mesmo da globalização. Estaremos a caminhar, a par da morte da Terra, para uma implosão produzida por biliões de seres humanos, apesar das bondades apregoadas? Será a globalização, porque iguala eufemisticamente, um churrasco planetário?
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materiais recolhidos do Diário de Notícias, em 21 e 22 junho 07

Um comentário:

naturalissima disse...

Fiquei engasgada com este breve, mas espantoso texto que transmite tão bem aquilo que ainda é o Homem de hoje, o mesmo de ontem... :(

Magníficas imagens para um post digno de se lêr.
Triste e duro de se acreditar que existe tanta verdade neste pedaço de palavras.

"Estaremos a caminhar, a par da morte da Terra, para uma implosão produzida por biliões de seres humanos, apesar das bondades apregoadas?"
Assusta-me responder.
Assusta-me querer saber a verdade.
assusta-me ter a certeza de tanta incerteza.
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Existe também pequenos sinais de sangue, de lágrimas, olhares e histórias de outros tempos, de ventos, chuva, de sois... tudo isto gravados outrora num muro...
É o que sinto e vejo... em "MURO DE LAMENTAÇÕES"