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terça-feira, março 03, 2009

A CULPA DE DEUS

para um ensaio sobre o livre arbítrio
orion
Um bom escritor, quando as suas palavras possam parecer ainda reais, séculos volvidos, é sinal de que os seus olhos viam para além das aparências, tocavam mais fundo na alma dos povos.
Tenho entre mãos mais uma obra de Rocha de Sousa, um livro que vou digerindo porque não cabe numa relação só. Do que conheço da sua vivência - seus blogs, pintura, desenhos, fotografias, escritos - o autor está lá, nas sucessivas referências à pintura surrealista - Magritte. Magritte que, ao que sei, não se queria nessa gaveta - saltos pontuais mas repetitivos a fagulhas da guerra em África, referências a Camus e Sartre e Beckett, na pele de um narrador em procuura de resposta sem réplica da presença de Deus em quadros sucessivos de Hyeronymus Boch, como ele em virar de século.
A escrita é impetuosa, fluente, a parte formal lembra António Lobo Antunes. Não só. As referências ao período de guerra, o horror dos hospitais para dementes que - ao que conheço, não li toda a sua obra - Lobo Antunes apenas aflora e Rocha de Sousa descreve com todo o realismo, com a segurança de quem fez o trabalho de casa, com intensidade e sentimento.
Estou a ler «A CULPA DE DEUS» na hora certa: quando são reveladas as cartas de Maria Teresa de Calcutá - diga-me. Padre, porque há tanta dor e escuridão na minha alma? - e eu me pergunto se é lícito divulgá-las, quando ela tinha deixado expresso que as queria destruídas, embora o eu conteúdo venha acrescentar a minha paz.
Vou continuar a ler. Até aqui partilho as considerações sobre o livre arbítrio, as decisões que cabem a cada um de nós para que se cumpram os limites que impomos a nós próprios.
Aquilo a que chamo dignidade.
Jawaa
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Ler estas passagens umas após as outras é acompanhar o narrador com o Jerónimo, procurando nos lugares onde o sofrimento humano nos transcende, sinais de Deus, na presunção de que tais lugares serão potenciais reveladores da benção divina, o que por isso mesmo, na excelência da hipótese, se revelará estranhamente inútil.
RS

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