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quarta-feira, julho 18, 2007

PRANCHA 37, A RESSURREIÇÃO E O FUTURO

Eu fui riscar no papel cavalinho e a mesa estilhaçou-se sem que pudesse adivinhar a causa, mesmo tendo em conta a batalha da banda desenhada, prancha 37, antes do rei proclamar o século em que vivia. O rei era considerado Deus na terra, zelando, através do seu filho artesão, pelo bem estar da comunidade. Mas a comunidade encontrava todos os dias motivos de desalento e até divisórias para brigas sangrentas. Cristus tinha um papel difícil, viajando por todo o território e voltando com notícias ao castelo brumoso, como nas lendas do reino da Dinamarca. Alguma coisa estava podre nesse reino, como ficou para a história. Cristus procurava acudir a tudo isso, crianças em redor, os riscos da escrita e as armas simuladas para a simulação dos eventuais combates. Se o filho do rei demorava mais tempo a regressar de certa viagem cavalgada e insana, toda a população se mobilizava de manhã à noite À noite caminhavam com tochas bruxeleando entre as sombras da floresta. E um dia, numa madrugada terrosa, os camponeses encontaram cavalos pisando o chão ao acaso, em breves derivas de cansaço e fome. E os homens? Algo de muito grave se havia passado, certamente. Juntaram-se mais homens, rapazes também, o fogo soprando perto dos ouvidos. E todos chamavam, cada um de sua vez, por Cristus. Ele não falou. Até que o encontaram, horas mais tarde, estava crucificado numa árvore de espessos ramos abertos. E logo o foram buscar, clamando «Senhor! Senhor!» Os de cima, segurando o corpo a partir dos ramos horizontais, deixavam-no decair obliquamente para as mãos do pequeno grupo que se encontrava no chão e parecia, braços subindo e descendo, estar arreando a vela rasgada de um velho navio. Deitaram Cristus na terra, olhos cerrados, armadura preta, rendas ensanguentadas, os dedos também, uma lança no peito, dobrado, rendido, a cabeça tombada para trás. Usando os cavalos sem cavaleiro, alguns mais treinados foram chamar o rei. O rei levantou-se devagar, perante a má notícia, ficou pálido, com os olhos líquidos, a mão apertando o peito, como ele próprio estivesse a sangrar. E então disse: «Tragam-no. É preciso que ele esteja aqui, na cela que lhe pertence, para que possa ressuscitar. Um dia saberemos o que fazer com esse milagre».

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