pintura digital de rocha de sousa
beleza de manhãs arrefecidas sobre o aniquilamento,
paz vertente
passada por manhãs em sopro
de brancura, sobre a pressão esplendente do vazio,
sem uma pausa, continuadas, pequenas,
num plano difundido, embriaguez estática, êxtase
horizontal, levitante, paragem quase
apaixonamento, quase desgaste para trás,
quase um pouco de tempo na sumptuária ausência
do espaço dessas manhãs, e como de repente
se perfuma de velocidades internas,
como se apressam de uma miriápode troca
de atenção, escarpas no ar bruto,
centro de buracos deslumbrantes,
a convulsa clareira dessas manhãs que se extenuam dentro,
energia,
relampejante textura, uma espécie
de fruta rachada fria, para uma treva sua se retiram
as manhãs respondidas,
toda a beleza assintáctica, uma cara arrasada
por lunações abruptas,
a madeira fulminada pelo tacto doloroso,
pistas de esporões e tramas vivas,
os jactos de néon filtrado a prumo,
e as manhãs ressuscitam, primitivas, surpreendidas
*
poema de Herbert Helder, excerto de Os Brancos Arquipélagos
2 comentários:
Mas que linda manhã, a sua!
Obrigada por partilhá-la connosco, soube bem.
Sabe que comecei a ler esse belo poema de Herberto Helder julgando que era escrito por si?
Não estaria mal. Nunca escreveu poesia?
esplendoros
sublime
belíssimo
quase chorei
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