Ceus de brandura e fogo,
crostas cortadas
no atraso das noites acordadas.
E o que sobrava em rios de lava
lavrando os mapas da insónia
abria sulcos de incerteza carbonizada,
faces furtivas, ainda vivas,
os pássaros fugindo avisadamente
na luz da hora intermitente.
Soavam gritos nasais ou roucos,
gritos sujos, loucos,
afinal previsíveis e terminais,
graves também,
cada vez menos audíveis
na distância de todas as fugas,
gente partindo ao contrário do medo.
Ficavam as janelas desdentadas.
Sobravam grandes nuvens de fumo
sem rumo,
puxadas pelas velas do vento.
Vidros partidos ou espelhos
na inconstância das folhas rasgadas
sobre alcatrão e pedras fracturadas,
os pássaros longe,
os barcos vazios, à espera,
paredes de lata,
velhos de pano sacudindo as feridas
das roupas desfibradas,
quase invisíveis, já perdidas.
Uma janela horizontal,
morta,
vitimada outrora
na fábrica ardida antes da hora.
Rocha de Sousa
3 comentários:
Bravo, mestre!... Assim como bravos, são os homens aqui lembrados através desta poesia pintada em tons de nostalgia ardente.
À demain, Oncle-Master...
Eu-Insomnia,
com o atraso-duma-noite acordada
:S
Belíssimo!
Belo poema... carregado de dor... É bem visível o drama.
A composição das imagens, é muito bem apanhada, ajudando-nos a sentir visivelmente o poema. Embora não fosse necessário tal apontamento fotografico... mas é importante a sua prsença estética e a sua forma de vida.
Bonita edição, esta.
Um beijinho... e ate´logo
:) Danidele
Um poema da alma a ilustrar uma fotografia belíssima - se não é ofensa nomear a beleza de um recordação dolorosa.
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