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quarta-feira, março 18, 2009

VIAGEM AO FUNDO DA INICIAÇÃO EM PINTURA

WAR
anos 60: primeira exposição, registo a preto e branco

imagem difusa da inauguração da exposição aqui referida

reconstituição de uma pintura da primeira exposição
de Rocha de Sousa Galeria Diário de Notícias, Chiado

texto da jornalista Manuela de Azevedo, anos 60

É uma exposição cheia de encanto e frescura, esta que Rocha de Sousa apresenta na Galeria «Diário de Notícias» e que ontem foi inaugurada com elevado número de convidados, entre os quais muitos artistas jovens, como o expositor, que é Assistente na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. São apenas onze os trabalhos que apresenta, neles se fundido, com admiráveis resultados, aquelas doces tonalidades da escola francesa, em que Nuno Siqueira é um dos seus felizes representantes, e aquelas formas deliquescentes de osmoses psicológicas que trazem dentro de si algo da «pop» e do grafismo oriental. Por outro lado, fazendo de temas dramáticos, como «Mutilações», uma expressão suave da «vie en rose», Rocha de Sousa consegue uma aliança estética que é a melhor marca da sua personalidade. Acrescente-se que é um pintor que não encobre as qualidades da sua pintura, sob o pretexto da sujeição a correntes estéticas a que não é estranho o nome de Gorky, se se considerar que há em ambos - e este será o seu único ponto de afinidade - uma espécie de abstracção orgânica e outra espécie de exame da natureza humana. A fantasia das formas, a delicadeza das tonalidades, contrastam e harmoniosamente se aliam a um desenho de verdadeiro senhor do «métier».
Além da pequena e encantadora colecção de óleos, Rocha de Sousa traz a esta exposição - uma das mais representativas apresentadas nesta temporada da Galeria Diário de Notícias -a importante colecção dos seus desenhos e colagens, em que se inserem, por vezes, traços delicados de cores baças. São de uma grande beleza, bem estruturados, no seu caligrafismo insinuando um abstracionismo apenas aparente mas cujo simbolismo é, entretanto, mordaz, como comentário. Toda a temática - e tanto as colagens-desenhos como a pintura mostram obedecer à «regência» do mestre maestro - é, aliás, caracterizada por essa mesma mordacidade crítica cuja leitura pode não ser sempre clara, mas que, enfim, classifica a força de interpretação daqueles que conseguirem penetrar nas séries «Intimidades», «Coisas consumíveis» ou «Modificações». É aqui, de resto, que mais se revela a qualidade de Rocha de Sousa, cuja invenção atinge, com frequência, um prodigioso dinamismo. Mas enquanto o desenho parece, sobretudo, acentuar o valor do ilustrador, pelo contrário, a pintura do artista, com o seu infusionismo, é, quase sempre, lírica e delicadamente sentida. Poderá dizer-se haver nela algo de neo-expressionismo?

Manuela de Azevedo

Um comentário:

jawaa disse...

Felicito-o, em primeiro lugar, pela ideia de recolher neste seu Construpintar as impressões que os olhos dos outros foram deixando sobre a sua obra, as suas obras. Não importa se a ordem é cronológica, importa sim o registo desse pensar alheio que é ao mesmo tempo uma avaliação (está na moda a palavra) que é importante.
Olhei para os seus quadros e tive a mesma impressão, aqui mais vincada ainda, de ter «perdido» com os anos alguma suavidade nos traços.
Também a vida perdeu doçura. Sinal do tempo. Mais do que dos tempos.