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quarta-feira, julho 11, 2007

SILENCIOSAMENTE NOCTURNO


Em África, no fundo da noite, temos de conviver com a imensa respiração da floresta, se estivermos situados no centro dos Dembos, em Angola, por exemplo, e procurando assim marcar esta ideia da noite e do silêncio na base de uma imagem que é poderosa e que, de certa maneira, minimiza oa efeitos sonoros do espaço urbano, carros e ambulâncias a diferentes distâncias, a passagem dos motores dos aviões em rancorosa aproximação à pista. Mas o tenpo é qualquer coisa que, escapando à nossa compreensão (ou ao sentido de medida que ilusoriamente nos transmite) reduz cada dia a sucessivas noites -- e quando as horas diluem a inquietação do dia, a vida que nos rasga e perturba, apetece-nos por vezes ficar em casa, silenciar as coisas em volta, calar a própra música, baixando a luz eléctrica, tornando lassos os músculos tão sacudidos pela vertigem do trabalho, da espera, das hipóteses de um sonho silencioso e de facto nocturno que tarda a chegar. Hoje, nesta hora longa, em silêncio, o sonho nocturno chegou, um simples quadro suspenso, como as fotografias que nos visistam assim: e o que vejo são apenas a harmonia clara das folhas de uma ave tropical, penas com sentido de plumas, ornamentando placidamente o céu negro, agora silencioso e de pedra, na sombra cava onde nada murmura, ao contrário do colossal murmúrio dos insectos e pequenos bichos silvando ritmicamente no centro dos Dembos, a copa das grandes árvores murmurando também, colossais.


fotos de rocha de sousa

2 comentários:

naturalissima disse...

Silenciosamente espreito-o.
Não sei se sinto alegria, nostalgia, se dou gargalhadas ou se choro, se sinto paz ou inquietude, se chamo por si ou pela tia,... Não, não o vou acordar deste silêncio nocturno.
Afinal vejo que vive de saudades. Que sonha. Que vive.
Amei este momento de silêncio...
Um beijinho aos dois

jawaa disse...

Os Dembos são a África intensa, misteriosa, húmida e quente de que rezam as crónicas. Eu vivi no planalto, uma África mais temperada, nem por isso menos forte, mas mais doce, mais maternal, se quiser.
Obrigada por partilhar esse sonho talvez dolorido, numa escrita sempre poderosa.
Raramente sonho com Angola; se acontece, vejo-me sempre na minha cidade linda, procuro o caminho da casa que nunca encontro...