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As cidades antigas, cuja história se perde a montante da formação da nossa própria Nação, têm em geral núcleos históricos de configuração esplendorosa, alguns ainda muito caracterizados, marcados pela presença de castelos ou fortalezas, lugares aliás que foram demoradamente arebatados aos árabes, como é notório no Alentejo e Algarve. Mas essa, em geral, é a história longínqua, conquista, ocupação, reforço da rede de defesas para manter unido o território de Portugal. A visita e o estudo desses núcleos históricos reveste-se de grande importância cultural, apoiando também o contínuo desenvolvimento da indústria turística, indústria que, depois de submergir em contruções opacificadas e quase geminadas em altura, tem tido o seu lado maligno entre nós, nomedamente no Algarve, onde seria preciso implodir cerca de 30% de equipamentos inalteráveis, recuperando as clareiras abertas para um bom reordenamento do espaço, tratado com invenção e largueza propícia ao lazer, não propriamente a desportos radicais e aos eternos e falíveis campos de ténis, expressão social que entrará em extinção, até por razões naturais, daqui a breves décadas, quando a água custar tanto como um barril de petróleo dos actuais.
Estas breves imagens não se situam em centros históricos mas em zonas baixas, são restos das urbes nos ano 30 e princípio do século. Ficavam próximas dos arruamentos onde começavam a florescer certas indústrias, da cortiça, dos frutos secos, da amêndoa, entre outras. Casebres rasteiros uns, altaneiros outros, a sua vida estava condenada pelo tempo de duração das explorações referidas -- e tanto operários como camponeses, gente das vizinhanças, dos sítios revestidos de oliveiras, sobreiros, amendoeiras, além dos citrinos, em quantidade e qualidade, nos vales abertos, com boa retenção de água, por vezes e assoreados pelos rios adjacentes.
Falamos aqui, numa linha alegórica, para significar as paragens e as ausências, de empare- damentos e sinais de conservação em vista de um futuro assaz vago. São janelas cegas, estas. São-no em termos físicos, restando a moldura das suas pálpebras, as madeiras apertadas por dentro com barras de ferro, apesar de cá fora o espectáculo do prédio urbano se degradar cada vez mais, numa sintomatologia de beleza plástica tão ou mais relevante quanto aquela a que nos referimos a propósito dos lixos provisórios. Resta-nos aguardar (com graus de intervenção possíveis) pelo abrandamento das actuais alucinações de crescimento e consumo, dividir cidades, alterar os propósitos, reinventar a civilização.
fotos rocha de sousa
Um comentário:
Gosto muito de casas antigas, aliás vivo numa, pequena e mal dividida, mas com um minúsculo quintal e cave.
O seu texto, além de muito bem escrito e abordando lucidamente os assuntos de que trata, tem também uns laivos de poesia.
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