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quarta-feira, setembro 19, 2007

LIXOS À CLARA LUZ DO DIA















fotos de rocha de sousa

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Vejo mais a plasticidade destas matérias, as suas tonalidades, a luz que se reflecte, a densidade de ocupação do campo, do que o significado imediato delas. Não venho rotulado de ecologista mas apenas de poeta (se quiserem), com aquela minha parte aliada primeiro ao quadro e só depois ao assunto, pela negativa ou pela positiva. Claro que, enquanto cidadão e artista plástico, o meu apetrechamento cultural leva-me a defender o planeta de várias agonias que vai sofrendo: livrem-nos dos males causados e da própria pulsão da Terra, das convulsões que sofre entre milhões de anos, talvez ciclicamente.
Registei imagens destes lixos provisórios, nem por isso menos censuráveis, mas o encontro com tais formações passa sempre por mim através das suas ressonâncias poéticas, uma realidade que pode tornar-se visível noutra linha de percepções. Nem todas as linguagens se dão bem com temas assim. Refiro-me às mais passíveis de se comportarem de forma naturalista ou motivadoras de repelência. Não era bonito de se ver os corpos nus que os nazis amontoavam em valas comuns (fotografia, cinema) nem as imagens de milhares de seres em decomposição após gueras fratricidas na África do Norte. A pintura expressionista pode basear-se em choques desses, aflorando a beleza pelas metamorfoses inrínsecas, muito mais eficaz do que qualquer representação naturalista, incluindo experiências veristas. O fotógrafo, em todo o caso, tem vias conciliadoras com algumas destas duras temáticas: porque pode agir numa via jornalístico-sensacionalista ou procurar o lado supra-real do visível, realçando os valores plásticos, de sensibilidade harmónica, que frequentemente estas paisagens contêm. Há sempre uma espécie de transcendêmcia em tudo.

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