Investiguei o real de um lado e do outro das suas aparências e um certo temor tomou conta de mim. Iniciei tudo por uma fotografia alheia, fui à janela registar a luz, folheei a Internet em busca das meninas desaparecidas, achei algumas delas com uma venda nos olhos, ligaduras nas mãos, mortas e abandonadas num sotão onde nem sequer os vagabundos pernoitam. Tudo era recente, afinal, o prédio cujo interior fotografei em sucessivas geminações, positivas e negativas, ou esse soalho cheio de terra e detritos, a luz de uma janela inventada a partir de outro sítio, a luz matinal e o negro nocturno conforme a magia dos meios ou das eventuais marcas da vida nas louças partidas, tudo a preto e branco, um corpo enfim, sinal de Deus sem dúvida. Um corpo de menina dormindo, morto ainda cedo, a cegueira escondida sob a venda electrónica das redes obscuras, transnacionais, que operam um novo vampirismo, obsceno enquanto reverso da civilização, enquanto as calotes polares entram inevitavelmente em colossal degelo.
Talvez este texto, apesar das suas pistas, não tenha sentido. Mas o que é que tem sentido se a própria beleza o não tem?
2 comentários:
Composição foto/plástica com ou sem sentido, mas de beleza apelativa.
Dentro de um espirito muito semelhante ao que tenho estado a experimentar, obetndo alguns resultados razoáveis.
Este é magnífico, tio. Encheu-me os olhos e a alma, com vontade de dar continuidade às minhas "criações".
:)
A história , foi muito bem apanhada nestes pretos e brancos com pequenos apontamentos a cores que caem na perfeição em toda a cena.
Excelente trabalho plástico/fotografico.
Gostei mesmo muito :)
Um beijinho e continuação de uma boa semana de criação!
;-) Daniela
João-tio-mestre,
a beleza não tem sentido nas coisas, tampouco na estética das mesmas.Talvez porque o Homem não vê e não sente com os mecanismos adequados...
Ou porque o sentido de beleza só existe na estética da alma.
Uma dialéctica estranha, revelando um mundo onde tudo é estranho.
Talvez, tudo deixe de o ser quando as palavras ou sentimentos deixarem de ser pensadas num abismo interminável de reflexos sociais, esboçando uma vontade tímida.
Um abraço para si, João, com...sentido de...admiração.
MIGUEL
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