quinta-feira, março 17, 2011
POR UM LIVRO QUE SE ENCOBRE A SI MESMO
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
QUANDO DEUS USA A EUTANÁSIA EM SOLIDÃO
Um jornalista sádico legendou a fotografia, na base de uma citação institucional, esta frase: o ideal é que os idosos se mantenham no seu ambiente, desde que acompanhados por estruturas de apoio. É como falar na defesa do inquietante património destes fantasmas. Alguns responsáveis desta área da organização social falam de idosos que se encontram autónomos e a viver nas suas casas, tristes e sós. Perto de 40% dos idosos sobrevivem nessa condição um resto de vida, em casa, com mais de 65 anos de idade e auito-sequestrados (ou doentes) durante mais de oito horas por dia, admitindo, em certos momentos e de viva voz, que se sentem todo o tempo tristes e deprimidos.
Entre as notícias sobre este assunto, destam-se seis casos de descobertas de pessoas mortas em casa, sozinhas, algumas («desaparecidas») há muito tempo. Augusta Martins, 95 anos, Rinchoa, Sintra, foi encontrada morta após 9 anos. Em Matosinhos, um homem morto assim, só foi encontrado após instantes protestos dos vizinhos. Cantanhede: um reformado do Exército, 71 anos, esteve morto, durante três meses, em casa. Amadora: Ex.PSP, Ernesto Henriques. esteve morto em casa dez dias. Ourém: Corpo de homem de 67 anos encontrado em Ourém. O laconismo da notícia começa a ser significativo. Faro: Um homem de 65 anos morreu sozinho na sua habitação.
segunda-feira, janeiro 31, 2011
A PARTILHAR COM NOZOLINO UM VER DORIDO
«Apanhei um período de grande turbulência e mal-estar com a minha vida em Lisboa. Como é que se pode ver o "Easy Rider" no Império e vir para a rua e ver a Fonte Luminosa? Eu queria aquela estrada. Sair.» Paulo Nozolino confessa que começou a beber e decidiu estudar pintura, fazendo um curso rápido nas Belas Artes. Mas é então que escolhe a fotografia. Uma namorada fotografada com a primeira máquina. Um corte na relação dela. Acabou por perdê-la na Almirante Reis. Nunca mais a viu. Não estava tudo perdido. «Não se perder tudo, pode guardar-se alguma coisa do que se viveu. Não estava tudo perdido.»


Controvérsia pode gerar linhas divergentes, paralelas, cruzadas, sobrepostas. Nesse caso, uma delas é invisível, deixa de existir. Mas a linha recta, precisa, ao longo do papel, pode ser uma figura contemplável ou a fortuita aparência de algo que esconde o próprio tempo. A menos que nos movamos para a esquerda e para a direita, encontrando todas as linhas anteriores. Esse tempo cinematográfico, gráfico também, não se gera por completo no olho nem na objectiva da câmara fotográfica: é um conhecimento, através da mobilidade visual, dos equívocos da percepção e da representação. A alma de uma fotografia (um retrato, por exemplo) ressuscita de memórias anteriores, pode revelar dinâmicas ou colocar-nos a olhar para o fundo dela. Foi assim que descobri o ser dos meus pais num retrato institucional de família. Desse quase impensável resgate resultou um livro: «Talvez Imagens e Gente de um Inquieto Acontecer» Essa também é uma forma de ultrapassar o perecível e alcançar no futuro um testemunho da verdade.
fotografia de Rocha de Sousa
Os restos de um registo centenário são, apesar de tudo, uma permanência. E a mudança de enquadramento de uma mesma coisa, torna-a outra, sendo esse um dos pontos base da mobilidade visual. A fotografia que vemos aqui já esteve na nossa retina de outro modo. E parecia diferente ou mesmo outra coisa. As nossas bases para esta relação com o real são um ponto essencial da nossa formação, do nosso saber e do nosso ser. Os pontos que assinalam olhares nossos por esse espaço fora são muitas coisas. Um gesto. O amor na memória. A casa onde vivemos é uma base indispensável à nossa estabilidade mental: viajamos até ao Oriente e, quando voltamos, a casa é como um ser vivo e comovente, sentamo-nos e (eventualmente) choramos. Nozolino conta a sua experiência em Berlim. «Há lugares no nosso trajecto pelas coisa que nos deixam feridos. A descoberta do Holocausto levou-me para trás. É então que se compreende o que significa essa coisa terrível de invadir, ocupar, matar pessoas, conquistar. Arrumar tais realidades, ultrapassar o horror que deixaram entre nós, essa é uma tarefa importante da literatura.» Com ela e o cinema, Tarkovski faz-nos ouvir os poemas do pai. É isso a vida. «A verdade é o modo como eu interpreto o mundo. Essa experiência é essencial, o nosso sofrimento, a vida». _______________________________________________
Este post decorre da entrevista assinalada acima, da acutilância de Clara Ferreira Alves e das próprias experiências do autor na pintura, literatura, cinema e acção docente. Só conheci Paulo Nosolino muito tarde, mas as nossas vidas, diferentes, foram contudo paralelas no tempo, no espaço, em certos padecimentos da alma, na espera, enfim, de não ser preciso desfechar um tiro na cabeça.
RSousa
quinta-feira, janeiro 06, 2011
LONGA TRAVESSIA ENTRE A MORTE E A VIDA
vezes o penitente recomeça. Ele ainda nos explica, com os edos, que à terceira é de vez, superstição das pessoas, propiciação da esperança e da perpetuidade do fogo em partilha com a água.
foto de Rocha de Sousa
segunda-feira, dezembro 20, 2010
DECIDIR O LIMITE TERMINAL DO SOFRIMENTO
A questão da vida é questão da morte. Só a morte significa a vida. Albert Camus, em O MITO DE SÍSIFO, escreve: «Só há um problema filosófico. o suicídio.» Se estivermos perante um suicídio por nada, só porque sim, porque basta, mais nos interrogamos sobre o sentido da vida. E muito dificilmente aceitamos que o sentido da vida é ela não ter sentido nenhum. Que o próprio homem pode decidir contra a vontade de Deus. Pode pensar: estou em sofrimento e não sei porquê nem para quê. O absurdo desse sofrimento pode iluminar-se com as minhas próprias mãos, pelo livre arbítrio, através da porta de um suicídio dignificante. O problema de decidir sobre a morte, dignifica a indignidade de um sofrimento sem fim, como o de Prometeu agrilhoado, é um problema que respeita à consciência e ao poder que Deus nos legou. A eutanásia, como forma de superar uma dor ignóbil, o prolongamento de uma falsa vida vegetativa, atravessada por breves instantes de consciência no horror da total dissolução da carne, é verdade iluminada, é escolha do limite no limite, é o acto supremo da solidariedade. Só as situações extremas, tantas vezes ilustradas pela guerra, podem explicar o apelo o apelo à morte ajudada. Há situações de combate em que uma baixa súbita, completa, coexiste com a baixa por ferimento não imediatamente mortal mas sem a menor possibilidade de retorno: coloca-se um garrote na perna esfacellada e o que resta dela morre em poucos minutos, fora da consciência. Ao longo de uma hora, o garrote já não trava o fim e há no interior do corpo hemorragias irreversíveis, submetendo o paciente a dores insanáveis, à perda da fala, à proximidade da morte minuto a minuto. Restam dois companheiros com confortam o moribundo, com risco da própria vida e com as comunicações rádio cortadas, incapazes de administrar o tempo e o tempo de aproximação das forças contrárias. O vivo quase morto atravessa um brevíssimo instante de consciência e exprime aos outros, com os olhos, que lhe cerrem as pálpebras. Carregados de ideias feitas, a força inibitória de certos lugares comuns, ainda hesitam muito tempo. Há duas opções neste caso anti-natura: eles acaam com o sopro de vida do companheiro claramente condenado ou eles esperam, procurando perceber se o companheiro já morreu ou ainda não, dúvida que os mata aos três com o rebentamento de um morteiro ali mesmo, dentro desta mistificação da vida, do heroísmo, em pleno espaço do absurdo. Em muitas situações em que o dilema se coloca, em casa, nos hospitais, na solidão, a eutanásia tem o sentido da bem-aventurança dignificante. Quando alguém se encarniça sobre um semi-morto, administrando-lhe fluidos de efeito curto, não eternizável nem curador, esse alguém renega a força da razão e o sentido da medida, do tempo, do limite moral
terça-feira, novembro 23, 2010
OLHOS NOS OLHOS, OLHARES INTRANSITIVOS
segunda-feira, outubro 11, 2010
ODE À SAGRAÇÃO DAS PALAVRAS PERDIDAS
domingo, outubro 10, 2010
O LUGAR DO TROLHA DEPOIS DO ALMOÇO
sexta-feira, setembro 24, 2010
OBRA DE DEUS ECOGRAFADA NASCEU MORTA
Eduardo e Alísia retomaram trabalhos e estudos, como se nada de preocupante tivesse acontecido. A família ajudava-se em certas horas de ausência, as irmãs, os filhos, essa comunidade cujas raízes subiram do fundo do tempo, regulares.
Um ano depois dessa alegria materializada em festa, depois também da precoce cerimónia do baptismo, o ritmo da vida do casal estabilizou numa espécie de velocidade de cruzeiro, entre o trabalho, a família, os projectos cuja dinâmica já lhes concedera coisas e favores. Mas isso envolvia a ideia de um segundo filho, gravidez tentada, preparada, assumida quando os sinais acusaram esse princípio dentro do seu habitat de metamorfose.
sexta-feira, agosto 27, 2010
DO DILÚVIO ÀS LAMAS ASSASSINAS E ETERNAS
domingo, agosto 15, 2010
OS INTESTINOS DO IMPERADOR E O FUTURO
pictogramas digitais de Rocha de Sousa
sábado, agosto 14, 2010
BICHOS, GENTE E A VOZ DO POETA PASTOR
segunda-feira, junho 28, 2010
PELA MANHÃ DO MEU INQUIETO ACONTECER
dentro de mim, morro de forma rara
quarta-feira, junho 23, 2010
AS LETRAS E AS ARTES, PRÁTICA E EDIÇÃO
Esta espécie de ilustração foi trabalhada em pintura, fotografia digital, colagem e fecho. Irá recobrir uma boa parte da capa de um livro. Trata-se de uma edição de Maria João Duarte, a partir da sua tese de doutoramento. Este livro será apresentado como qualquer outro, mas não deixa de apresentar conteúdos ainda hoje bem pertinentes: a oposição à ditadura, em Silves e no Algarve todo. O núcleo físico onde «decorre a acção» é a cidade de Silves, muito traumatizada pela PIDE e em face (nos anos 50/60) dos núcleos políticos emergentes na indústria da cortiça, ali onde se concentrava o maior centro produtivo do mundo, na transformação e exportação. Fui testemunho desse esplendor e dessas tensões, quando o governo passou a exportar a cortiça em prancha, logo que tirada das árvores, ofercendo ao estrangeiro uma riqueza em bruto para manejo bem lucrativo. Os donos das terras de sobreiro enriqueceram ainda mais, os trabalhadores ficaram mais ou menos ao Deus dará.
O livro chama-se «Silves e o Algarve, uma história da oposição à ditadura». Esta imagem, partindo de muitos dados visuais de Silves, nos seus diferentes aspectos, multiplicados e reassociados, entrecruzando-se numa atmosfera de quase ruína, tarde vazia, gente recolhida, monumentalidade de restos das fábrica -- e, sobre tudo isso, contra o céu, uma insólita visão que absorve a metáfora sobre o lado monstruoso e vigilante de algo que nos amordaçava, prendia, e por vezes fazia desaparecer. Hoje o sonho é claro, e as ruas não têm este clima terroso dos anos 50. A autarquia tem dotado a cidade de uma panóplia de bens e serviços aceitáveis. A memória dos patrimónios antigos convive com a arquitectura da zona histórica e da baixa em termos urbanos e lúdicos, junto ao rio. Obviamente, já não há as grandes fábricas de cortiça, nem os 6.000 trabalhadores daquele tempo, nem sequer a Câmara pôde segurar o excelente museu da indústria cortiçeira, obra museológica de importante sentido divulgador e pedagógico, premiada internacionalmente. Esta cidade, aliás, padece de coisas ainda sinistras: reconstruiu um teatro dos anos 20, há cerca de um ano fechado; adaptou uma edificação de marcas arabizantes como Institudo Superior de Estudos Árabes: faz algumas exposições e está às moscas, apesar da sua beleza e do seu aprazimento. As modificações da margem do rio Arade funcionam, como as psicinas e as instalações para feiras industriais, comercias, ou da agricultura. Ninguém pode imaginar verdadeiramente a que degradação chegou esta importante cidade da memória árabe e do sorriso que conquistou, entre omissões, nestes últimos anos.
quarta-feira, junho 16, 2010
AS IMAGENS QUE MORAM NO CAMINHO DA FÉ
terça-feira, maio 11, 2010
O PAPA BENTO XVI E OS MENINOS LADINOS
terça-feira, abril 06, 2010
A CONDENAÇÃO DO PASTOR PELO REBANHO
ovelhas são mais o símbolo da comunidade e da sobrevivência do
que gente empurrada para castigos sem explicão.