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sexta-feira, agosto 10, 2007

OS AQUÁRIOS DE TODAS AS PETÚLIAS
















Um amigo meu, engenheiro em Luanda,
tinha certamente a melhor biblioteca da cidade.
Mas tinha também belas obras de arte local. Entre as coisas mudas

da cultura, amadurecidas nos próprios objectos
ornamentais, fazia-se acompanhar por um magnífico aquário onde
flutuava um peixe com barbatanas como véus
e ao qual ele chamava petúlia.


















Este animal aquático imita razoavelmente a Petúlia
do meu amigo de Luanda. Reside tanbém num aquário
e suponho que não saberia viver no mar. Talvez,
isso sim, em certos lagos límpidos, entre rochas.
Não sofre de pesadelos, apenas sonha ao de leve
como um balão colorido imerso a meio do líquido.
















Os cativeiros afinal multiplicam-se. Para peixes e para humanos,
sem contar com a barbaridade que se abate sobre o planeta
e segrega pessoas em aquários destruídos pelas tempestades,
sem peixes, água barrenta e altamente contaminada
onde as crianças passeiam e brincam como na mais
perdida das praias fluviais.



















Os peixes, mesmo as Petúlias, mesmos os ornamentais,
também têm o seu apocalipse.
Nós fingimos não dar pelo nosso, mas eles, com o seu habitat
desfeito pelos tumultos do mundo, acabam sem respiração,
abrindo e fechando a boca.
Em silêncio.
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fotos rocha de sousa

Um comentário:

fernanda f disse...

Que magnífica esta passagem do nítido ao não nítido, como se fôssemos cegando paulatinamente...ou o nosso olhar se fosse distanciando do movimento de Petúlia , cada vez mais longe de si também, em mergulho para o sonho.
É tão bom ver coisas belas.